O homem não deve só enfrentar períodos de tensão, mas também desfrutar períodos de repouso correspondente. O sono é uma das formas rudimentares corriqueiras e necessária para efetuar tal terapia; No entanto nem sempre resolve o problema; muitas vezes não conseguimos nem dormir tranqüilos, pois teremos o sono sobressaltado devido ao grande número de preocupações que nos circundam. A música a curto e longo prazo exerce efeito muito mais benéfico do que qualquer outro tipo de terapia. Contudo, não é toda música que serve para efetuar tal trabalho. A música pode ser usada de diversas maneiras e em diversos lugares com diversos objetivos. Por exemplo:
Nas escolas
Deve haver música nas escolas. Esta deve ser:
· Singela para que possa ser compreendida e fixada pelo espírito;
· Viva e alegre para que emocione e promova contentamento;
· Agradável, para que desperte interesse na atividade;
· Rítmica, para que se identifique com a vida que é ritmo.
Os cantos de ritmo suave e sentimental são os mais apropriados para serenar a inquietude; ao contrário, à entrada e à saída de uma aula, devem ser empregados os cantos vivazes que excitam os movimentos. (Teobaldo Miranda Santos).
· Criar o ambiente mais puro e o mais elevado possível.
· Proporcionar o sentido rítmico que leva a cultivar os temperamentos musicais e implantar na inteligência, noções fundamentais da ordem e da atenção.
· Desenvolver a capacidade auditiva e a sensibilidade.
· Familiarizar singelamente com a idéia de que o movimento é música e que a música é movimento.
Nos consultórios
Por exemplo, num consultório odontológico a música tem muito que ver com a calma do paciente. Estudos e pesquisas indicam o seguinte:
· A música nos consultórios deveria ser devidamente selecionada em vez de deixar-se qualquer emissora de FM tocando o que der e vier. Um bom aparelho sonoro (gravador) deveria possuir a mais calma música para que predispusesse o paciente.
· Possuir literatura conveniente para que os pacientes pudessem distrair-se, sem se preocupar com o ruído emitido pêlos aparelhos de alta rotação.
· Tratar o paciente com amabilidade para que o efeito obtido na sala de espera não seja totalmente perdido.
· O que foi mencionado para o consultório odontológico pode ser aplicado a qualquer tipo de consultório, pois o problema é idêntico.
A música e seus efeitos
A música projeta as multidões em estado próximo ao hipnótico e, nessas circunstâncias, torna-as extremamente permeáveis à exortação de líderes políticos, seja para o bem ou para o mal. A música considerada em si mesma não pode ser boa ou má, moral ou imoral; aliás como sucede em relação a todas as artes. Mas, de acordo com a orientação que o homem lhe imprime e a utiliza, empresta-se-lhe uma indumentária sadia ou mórbida, excelente ou subversiva.
Mas se a música tem sido cúmplice do despotismo, da corrupção e da decadência das nações, tem igualmente desencadeado, sob a inspiração de nobres ideologias, as mais gloriosas revoluções políticas e sociais, impondo-se como instrumento de ascensão de civilizações e povos: são os hinos que fazem as revoluções, diz Eça de Queiroz.
Na realidade não há guerras sem música. A revolução francesa nasceu da filosofia de Voltaire e Rousseau, mas foi levada avante pelo impulso da Marseillese de Rouget de L'lsle. O que dizemos da França dizemos da Polônia com a música de Chopin e Paderewski através das Polonaises. Quando as ouvimos quase podemos ouvir os passos firmes e pesados de homens resolutos, fazendo face às injustiças do destino.
O que é Musicoterapia?
Na Argentina, EUA, França e outros países, um tipo de terapia através da música tem sido muito desenvolvida, levando o nome de Musicoterapia.
Como o nome indica, trata-se de uma terapia, ou seja, um método de tratamento que utiliza basicamente a música. Mas esta é uma definição um pouco estreita. Mesmo sem estar doente, o indivíduo pode fazer a experiência da influência benéfica de uma certa música sobre o seu espírito e sobre o corpo. Por outro lado, a música não é um medicamento que se aplica unicamente no exterior.
No Egito antigo, em meio a superstições e crenças, a música veio impondo-se como recurso de encantamento e de magia, susceptível de acarretar os efeitos mais diversos, inclusive a cura dos transtornos do corpo e do espírito. As primeiras referências à influência da música sobre o organismo humano foram encontradas num papiro médico egípcio datado de 2500 A.C., descoberto em Kahum por Petrie em 1889.
Conforme célebre episódio bíblico ocorrido dez séculos antes de Cristo, o rei Saul era vítima de crises periódicas de excitação psicomotora, nas quais, de acordo com o relato bíblico, ficava possuído por um espírito mau. Então, o jovem Davi dedilhava a sua harpa junto do rei e, expulsando o mau espirito por meio da música, fazia-o voltar à calma. Mais tarde, como rei, Davi fundou uma escola de canto orfeônico que chegou a utilizar quatro mil cantores.
A música na mitologia grega
Segundo refere Homero, Apoio era médico dos deuses, no Olimpo. Depois transmitiu os conhecimentos médicos ao centauro Quirão, que era também versado em música. Este último tratava toda a sorte de doenças com os sons de uma lira. Esculápio (filho de Apoio), tratava doentes fazendo-os ouvir cantos suaves e voluptuosos; Homero (precursor da filosofia de Platão), assinala; a música não foi concedida aos homens pêlos deuses imortais com o fim somente de alegrar e de recrear seus sentimentos, mas ainda para apaziguar as perturbações de sua alma e os movimentos tumultuosos que experimenta um corpo cheio de imperfeições.
De acordo com a doutrina musical dos gregos, cada um dos modos, assim como dos géneros e dos ritmos, encerrava determinado poder moral. Esses caracteres morais atribuídos à música constituíram o Ethos.
O modo frígio — excitava o furor e coragem; o modo lídio — levava à tristeza, arrependimento, contrição; o modo eólio — amor; o modo dórico — gravidade, reconhecimento, concentração.
A prática exclusiva dos exercícios ginásticos desenvolveria unilateral-mente a capacidade física dos indivíduos. Seria preciso também cultivar o espírito. Por isso Platão aconselhou a prática da música aos jovens. Só eram permitidos dois tipos de música: Violenta — adequada para a guerra. Tranqüila — propícia à prece e à concentração.
Asclepíades de Bitínia, retórico e depois médico em Roma, não só descreveu precisamente sintomas de doenças mentais e interpretou-os à luz de curiosas teorias, mas ainda preconizou normas de tratamento. Na sua opinião, a harmonia musical e um concerto de vozes eram medidas terapêuticas de muito valor.
O emprego da Musicoterapia
Vemos que a Musicoterapia não é coisa nova. Pesquisas atualmente estão sendo feitas em centros especializados. Na Argentina, nos EUA e, de maneira especial na França, no Centro ou Associação de Pesquisas e Aplicações de Técnicas Psicomusicais.
São três os departamentos desta associação:
· musicoterapia e técnicas psico-musicais;
· educação e pedagogia;
· audio-analgésico.
Nos dois primeiros são feitos estudos nos quais a música possa facilitar a assimilação no ensino, estimular a criatividade e a descontra-ção. O terceiro tem que ver diretamente com a audição de música, pela qual a dor pode ser atenuada.
A Musicoterapia receptiva
É aquela onde o indivíduo escuta música, é utilizada para curar psicoses, neuroses, angústia, etc.
O tratamento funciona da seguinte maneira:
O paciente deverá submeter-se a essa terapia durante umas dez semanas, durante uma hora por semana em caráter individual. Se este sistema não surtir efeito submeta-se o paciente à musicoterapia de grupo, onde serão incluídos exercícios corporais diversos e expressão corporal. Após alguns minutos de conversa com o paciente, saber-se-á seus gostos e seu estado.
O musicoterapeuta vai fazê-lo escutar três obras musicais com a duração global máxima de 20 minutos:
· Tentará refletir o humor do paciente.
· Irá neutralizar os efeitos da primeira.
· Música calma, apaziguadora e reasseguradora.
Os pacientes não precisam conhecer música, basta apenas que sejam sensíveis a ela. Aliás, este trabalho não funciona muito com os músicos, porque em vez de ouvirem, analisam a obra que escutam.
A Musicoterapia Ativa
Falamos até agora da musicoterapia receptiva. Temos também a ativa — é mais adaptada a crianças e a adolescentes com deficiências e anormais. Ela pratica-se em grupo. Cada participante irá tocar vários instrumentos. Permite liberar a agressividade e criar um espírito de grupo. O indivíduo reintegra-se na sociedade. Parece tudo muito fácil, mas há alguns problemas que veremos agora:
Como escolher a música apropriada?
Nós temos música e música; é perigoso usar um medicamento cuja natureza se ignora. A música pode ser veículo de paixões perigosas do autor e por isso solicitar estas do ouvinte. Muitas vezes nos perguntam se realmente a música cura os problemas. Martin Geck responde: a música não pode curar algum problema, ela pode somente nos colocar na disposição de o combater.
A musicoterapia não pretende de forma alguma sobremontar a psico-terapia ou a quimioterapia. O objetivo é ajudar o paciente a galgar estados de tensão impostos pela vida moderna, o que favorece o uso de excitantes como o chá, café, cigarro, álcool e outras drogas. A musicoterapia foi utilizada com sucesso com alcoólatras e fumantes.
Vamos dar alguns exemplos de como usar a música nos diferentes casos, ou melhor, estados de espírito:
Influencias tonificantes
Grande marcha da Tannhauser de R. Wagner; Overture de Rienzi de R. Wagner; Abertura do concerto n° 1 de Tchaikovsky; Sinfonia n° 5 de Dvorak; Judeus, extraído da Morte e Vida de Gounod; ato n° V da ópera Fausto de Gounod; Minueto de Boccherini; Aida de Verdi, entre outras.
Influencias exaltantes
Daphnis et Cloé de Ravel; In Paradisum, final do Requiem op. 48 de Fauré; Lês Creatures de Prométhée de Beethoven; Serenata de Toselli; Adágio em sol m de Albioni.
Influencias relaxantes
Lago dos Cisnes de Tchaikowsky; Largo extraído da Xerxes de Haendel; Serenata de Schubert; Hino ao Sol de Rimski-Korsakov; Sonho de Amor de Lizt; Liebeslied de Krasiler; Fantasia e Fuga em sol m de Bach.
Influencias apaziguadoras
Canto Indu de Rimski-Korsakov; o Cisne de Saint-Saens; Cavaleria Rusticana de Mascagni; Ave Maria de Schubert; Requiem de Fauré; Reverie de Schubert; Ária da 3a suite de Bach.
Estes são alguns exemplos de música com funções determinadas. Outras podem ser acrescentadas, e usadas mediante o gosto de cada um. Deveríamos tomar mais tempo para estudar a boa música antes de cairmos doentes.
Revista Mocidade No. 244 - Ano XX - No. 4 - Casa Publicadora Brasileira (S. Paulo). Abril de 1978
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NOTA
Estudei Musicoterapia na Associção Psico-musical de Paris em 1971 e no Seminaire Adventiste Sous-Saléve, na França em 1972
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