segunda-feira, maio 21, 2007

1992 - CARL ORFF vivo para sempre *Carmina Burana*

Já se passaram 96 anos do nascimento de um dos principais representantes da música alemã de nosso século.
A 10 de Julho de 1895, nascia em Munich, vindo a falecer em sua cidade natal a 29 de Março de 1982, com quase 87 anos.
Hoje, há quase 10 anos de sua morte, a sua música continua a cada dia mais viva. Sua trajetória começou aos 5 anos, quando iniciou seus estudos de violoncelo e piano. Mas a sua marca somente começa a surgir após 1931, quando resolve colocar em prática uma idéia brilhante, que veio a se chamar "SCHULWERK", ou seja, o desenvolvimento de um método de educação musical, fundamentado no ritmo, na expressão corporal e na dança. Partindo desta concepção, Orff desenvolveu um instrumental específico, a fim de impulsionar o desenvolvimento musical dos alunos. Este método teve tanta repercussão, que hoje já se encontra traduzido em 14 idiomas, envolvendo a música de diversos países, transformando-o assim num método universal em todos os sentidos.
A partir de 1936, Orff dedica-se à composição das grandes obras, que o colocariam ainda mais acima, em seu próprio pedestal. Suas obras obtiveram enorme repercussão, chamando a atenção dos principais diretores, coreógrafos e maestros do mundo. Algumas obras tornaram-se mais conhecidas, como é o caso das óperas: "DIE KLUGE" (A Astuta), traduzida em 9 idiomas e "ANTIGONAE", das cantatas: "CATULLI CARMINA", "TRIUNFO Dl AFRODITE" e a mais popular de todas, "CARMINA BURANA". Estas três cantatas compõem um triplico teatral. Carmina Burana, foi a primeira e a mais popular de suas obras, composta entre 1935 e 1936, estrelando em Frankfurt a 8 de Junho de 1937, com absoluto sucesso. Reúne textos de diversas canções de "CARMINA BURANA", uma série de poemas profanos escritos por monges alemães, do monastério Bavariano, datados do XIII século, escritos em língua alemã, francês arcaico e latim.
ORFF escreveu duas versões de "CARMINA BURANA", a principal e a preferida do autor, é escrita para grande orquestra, coro, solistas e coro de meninos, composta em 1936. Para atender a grupos amadores e a cidades onde não haja uma orquestra, sem alteração das partes do coro e solistas, adaptou o acompanhamento para 2 pianos, tímpano e 5 percussionistas. Esta versão diminui um pouco o brilhantismo da obra, que fica por conta dos diversos timbres instrumentais da versão orquestral.
Os solistas Soprano, especialmente o Tenor e o Barítono, devem conjugar virtuosismo, leveza e ao mesmo tempo dramaticidade. Por exemplo, a voz de Tenor solo, tem uma única aparição musical no "OLIM LACUS COLUERAM" (uma vez nadei no lago). Este canto fala sobre um cisne que está sendo preparado e assado, para que seja devorado por convivas de uma grande festa. Sua linha melódica extremamente aguda representa o sofrimento e a angustia deste cisne. Em diversas gravações e até em espetáculos a parte do tenor solo é substituída por um contra-tenor. Raros são os tenores que conseguem cantar estes poucos compassos utilizando a voz natural, necessitando utilizar o artifício do Falsete. São apenas seis compassos, em forma estrófica e em movimento lento, mas que exigem muita habilidade e energia do cantor.
Os solos do barítono, não são diferentes tecnicamente. Em "ESTUANS INTERIUS" (interiormente estremecido), "EGO SUM ABBAS" (sou o Abade) e no "DIES, NOX ET OMNIA", é exigido do intérprete grande virtuosidade e dramaticidade, o que por vezes parece impossível de conciliar. Estas canções fazem estremecer seus intérpretes, tanto pelas dificuldades técnicas, como pela beleza do texto e música.
Gostaria de destacar algumas características da obra e vida de Carl Orff. Ele viveu numa época onde o sistema serial de Schoenberg, Alban Berg e outros, estava em moda, no entanto ele ignora este modismo, que se tornaria decadente mais tarde e desenvolve a sua própria personalidade musical. Sua obra enfoca modos antigos, utiliza ritmos ostinatos, sua orquestração é rica em efeitos sonoros sempre emoldurados pelos instrumentos de percussão. Sua originalidade e genialidade, repousam na coerência e equilíbrio estrutural, resultando numa grande vibração sonora e grande colorido. CARMINA BURANA é justamente a prova desta genialidade. Não sou eu quem diz, mas a popularidade que esta obra obteve.
Sua obra consegue atingir ao grande público, aliás esta era a grande intenção de Orff. Ao elaborar suas estruturas musicais, tinha uma preocupação de criação, sua música deveria agir de forma psicológica, mágica e por que não dizer, até mística, sobre o público. Sua ação primordial vem do ritmo e não da harmonia, que envolvem suas melodias. A estrutura musical é simples e com características populares. Este trabalho minucioso de elaboração rítmica, harmônica, melódica, contrapontística, dão à sua música um sentido estético equilibrado, envolvente, como reflexo de sua própria personalidade e pureza.
CARMINA BURANA, obra com a duração de mais ou menos uma hora é assim formada: O PRÓLOGO e o EPÍLOGO, re-tratam os poderes da Roda da fortuna, mostrando a volubilidade da sorte e as fraquezas do homem ante a fortuna. O núcleo divide-se em três partes distintas: a primeira parte descreve os encantos do despertar da natureza ante a aparição da Primavera; na segunda parte, chamada "NA TABERNA", são descritos os sentimentos baixos e frívolos do homem; e na terceira parte a tônica é o amor. No entanto esse amor é liberal, físico, ardente e espontâneo, mas no final, tornando-se culposo, indeciso e até frustrado.
Carmina Burana é uma coletânea de 400 poemas profanos escritos por monges alemães, do monastério Bavariano, datados do XXIII século. Estes monges e seminaristas formaram uma confraria que era conhecida como Goliardos, dissidentes da igreja, faziam poemas contra a igreja da época, basicamente com motivos profanos, eróticos, ligados ao vinho, jogo e prazeres da mesa e da carne, além de críticas e sátiras aos costumes medievais. Embora houvesse muita pressão para exterminar esses poetas, conseguiram sobreviver até o século XV. Um dos últimos poetas Goliardos que se tem notícia, foi François Villon.
Os textos eram escritos em alemão da Idade Média, francês meridional e latim. Orff escreveu duas versões, sendo que a preferida do autor é a versão orquestral. A outra versão foi dedicada a grupos amadores, adaptada para dois pianos e cinco percussionistas.
Os solistas, especialmente o tenor e o barítono, devem conjugar virtuosismo, leveza e ao mesmo tempo dramaticidade. Por exemplo a voz de Tenor solo, tem uma única aparição no "0LIM LACUS COLUERAM" (uma vez nadei no lago); este canto fala sobre o cisne que está sendo preparado e assado, para que seja devorado por convivas de um grande banquete. Sua linha melódica, extremamente aguda, faz alusão ao sofrimento e à angústia deste cisne, como uma alusão ao povo. São apenas seis compassos de forma estrófica e em movimento lento, mas que exigem muita habilidade, energia e dramaticidade do cantor. Os solos do Barítono, não são diferentes tecnicamente. Em "ESTUANS INTERIUS" (interiormente estremecido), "EGO SUM ABBAS" (sou um Abade) e no "DIES, NOX ET OMNIA" (o dia, a noite e tudo), exige do cantor grande virtuosidade e dramaticidade, o que por vezes parece impossível conciliar. Estas canções fazem estremecer seus intérpretes, tanto pelas dificuldades técnicas, como pela beleza do texto e da música. A voz do Soprano traz aos nossos ouvidos graciosidade e sensualidade.
Carmina Burana consegue envolver um grande público, e esta era a grande intenção de Orff. Ao elaborar as estruturas musicais, tinha como preocupação a criação de música que agisse de forma psicológica, por que não dizer até mística sobre o público. Sua ação primordial vem do ritmo e não da harmonia que envolve as suas melodias. A estrutura musical é simples, com características populares. Este trabalho de elaboração rítmica, harmônica, melódica, contrapontística, dão à sua música um sentido estético equilibrado, envolvente, como reflexo de sua própria personalidade e pureza.

Apollon Musagete – Ano IV, pág 9 – Curitiba, dezembro 1991

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