quinta-feira, maio 10, 2007

ANTONIO CARLOS GOMES (1839-1896) - Colombo

Carlos Gomes sem dúvida, foi o maior compositor brasileiro lírico do século XIX. É considerado um fenômeno da música nacional e uma importante figura da ópera romântica internacional, derivando sua linguagem do verdianismo da segunda metade do século.Nascido a 11 de junho de Campinas, na época era chamada de Vila São Carlos e faleceu a 16 de setembro em Belém do Pará. Seu pai, Manoel Carlos Gomes, era um conceituado professor de piano, canto e violino. Desde sua infância revelou sua vocação para a música, aparecendo em público pela primeira vez em 1846, com apenas 10 anos, como integrante da Banda Marcial, numa apresentação para D. Pedro II, durante uma visita do imperador a sua cidade. Na ocasião seu pai era o regente e ele tocava triângulo ao lado de seu irmão José Pedro de Santana Gomes, que tocava clarinete. Mais tarde trocou o triângulo pela clarinete e pelo violino. Foi estudar em SP com Paul Julien, violinista premiado do conservatório de Paris. Aos 11 anos inicia seus estudos regulares de música logos após concluir o estudo básico, iniciando pelo clarinete, depois violino e piano. Em 1848 deu seu primeiro recital, tocando piano e cantando modinhas, suas primeiras obras. Três anos mais tarde formava um duo com seu irmão que tocava violino, e nas apresentações executava suas próprias obras, como modinhas, valsas e mazurcas.
Em 1854, escreve sua primeira obra séria, a Missa de São Sebastião, dedicada ao maestro Henrique Levy, e em 1857 escreveu “A Rainha das Flores” valsa para piano, entre outras obras para piano, e neste mesmo ano, em parceria com o músico Ernest Maneille, abre em Capinas uma escola de música onde ambos dão aulas de piano, canto e música em geral.Em 1857, escreveu uma série de pequenas obras que fez levar no Teatro S. Carlos de Campinas.Em 1859 foi para SP, onde tocava com seu irmão violinista José Pedro Santana em audições particular e concertos públicos. Dessa época surge a famosa modinha “Quem Sabe” (1860), recordando Ambrosina, seu primeiro amor de adolescente. Por insistência de seus amigos e à revelia de seu pai foi para o RJ onde foi aluno de Francisco Manuel da Silva, o professor ficou surpreso com o rápido aprendizado de seu mais novo aluno e lhe encomendou uma cantata, que estreou sob sua própria regência a 15 de março de 1860, na Academia Nacional de Belas Artes, o que lhe valeu a nomeação para ocupar o cargo de ensaiador e regente da Orquestra Imperial Acadêmica de Música e Ópera Nacional.Ainda como estudante apresenta em setembro de 1861 seu primeiro trabalho lírico “A Noite no Castelo”, sob a regência de Francisco Manuel da Silva, o que lhe valeu de D. Pedro II a “Comenda da ORDEM DA ROSA”. Com a apresentação da ópera “Joana de Flandres” no Teatro Nacional em 15 de setembro de 1863, obteve reconhecimento público e uma bolsa de estudos para estudar no Conservatório de Milão, tornando-se aluno de Lauro Rossi, de quem foi aluno por 3 anos, prestando exames finais com a obra “LA FANCIULLA DELLE ASTURIE”, obtendo assim o título de maestro-compositor.Em 1865, inicia a composição de sua terceira ópera, “Il Guarany”, a qual estréia a 19 de março de 1870, no Teatro Alla Scalla, tornando-se grande sucesso de crítica e público, sendo levada para todas as principais capitais européias. Por esse sucesso, recebe o título de “Cavaleiro da Ordem da Coroa” pelo governo Italiano. Em agosto deste mesmo ano retorna ao Brasil, sendo recebido no Brasil como herói com grande ovação pública. A 2 de dezembro a ópera é levada no Teatro Lírico Fluminense.
Em 1871, retorna a Milão para se casar e em 16 de fevereiro de 1873, no Teatro Alla Scalla de Milão, apresenta a ópera “Fosca”, com sucesso menor que a anterior. Em 21 de março de 1874, no Teatro Carlos Felice de Gênova, estréia sua ópera “Salvador Rosa”, que segundo Carlos Gomes, sua principal ópera e obra prima, e a 27 de março de 1879, no Teatro Alla Scalla de Milão apresenta sua ópera “Maria Tudor”, “Lo Schiavo”, obra dedicada à princesa Isabel, estreou no RJ a 27 de setembro de 1889 e “Condor”, ópera estreada a 21 de fevereiro de 1891.
Doente, e de condições financeiras precárias, em 1892, com o objetivo de comemorar o quarto centenário do Descobrimento da América, Carlos Gomes escreve sua última grande obra, “COLOMBO”, que ele mesmo chamou de, Poema Vocal Sinfônico, um oratório em quatro partes, escrito para coro, solistas e orquestra, com letra do poeta ZANANDINI que utilizava o pseudômino de ALBINO FALANCA, estreado do Teatro Lírico do RJ a 12 de outubro de 1892, com grande fiasco.
Em 1893, visita os EUA como membro da delegação brasileira à Exposição Universal Colombiana de Chicago, dirigindo um concerto lírico com obras de suas diversas óperas com grande sucesso.
Em 1985, com sua saúde bem abalada, vai para Belém da Pará, a convite do governador Sodré, que o nomeia como diretor do Conservatório de Música de Belém, ocupando o cargo por apenas 3 meses, vindo a falecer dia 16 de setembro de 1896.
Carlos Gomes é autor de 8 óperas, 1 oratório, 2 cantatas, vários hinos cívicos, obras para grande orquestra sinfônica de câmara e cordas, banda, música de câmara, obras para piano, piano e canto, e coro com orquestra.
COLOMBO – Poema vocal sinfônico.
ORIGEM
A obra surgiu a partir de 1892, tendo sido escrita para participar de um concurso, que escolheria uma cantata que seria apresentada nas comemorações de uma Exposição de Chicago, nas comemorações dos festejos do IV Centenário do Descobrimento da América, escrito para solistas, coro e orquestra, com o acréscimo de uma banda interna. Estreou no Rio de Janeiro em outubro de 1892 no Teatro Lírico Fluminense. A partitura possui uma dedicatória dedicada “to the American People”.
TEMA
Como não poderia deixar de acontecer com um compositor de grande veia operística, Carlos Gomes, ao compor esta peça, imprimiu um caráter cênico , ao contar uma história de grande importância para nosso continente por meio de uma dramatização da vida de Cristóvão Colombo, aliás bastante criticada por ser superficial e romantizada.
MÚSICA
A música de Carlos Gomes, caracteriza-se pela fluência melódica e pelo senso dramático do contexto musical e de seus personagens.
LIBRETO
O libreto original é em italiano, fato compreensível na medida em que se constata que o idioma oficial da música vocal, em finais do século XIX, ainda é o italiano, principalmente para um compositor que, brasileiro, fez carreira na Itália, sendo muito elogiado por diversos compositores, inclusive pelo incomparável Giuseppe Verdi.Quando da composição de Colombo, Carlos Gomes se utiliza-se de um libreto escrito por Albino Falanca, possivelmente pseudônimo de ANÍBAL FALCÃO, político brasileiro, ou do poeta ZANANDINI, amigos do compositor. Outros estudiosos acreditam que tenha sido o próprio compositor o responsável pelo libreto.
PRIMEIRAS APRESENTAÇÕES
Em 1933, Villa-Lobos regeu o “Colombo” no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em forma de ópera, com cenários, figurinos e coreografia. EM 1980, o Teatro Municipal de SP, também realizou uma apresentação dessa forma, com relativo sucesso. O problema, é que Carlos Gomes escreve na partitura o termo “quadros” ao invés de “atos”, por serem de pouca duração, obriga a troca constante de cenas, além da presença de um narrador para o necessário desenvolvimento da ação cênica.
PERSONAGENS
Colombo (descobridor Genovês) – barítono;
Isabella de Castella (rainha de Espanha) – soprano;
Fernando de Aragão (rei de Espanha) – tenor;
Frade Juan Perez (confessor da Rainha) – baixo;
Dona Mercedes – meio soprano;
Dom Ramiro – tenor lírico;
Dom Diego – baixo/barítono.
Além destes personagens há a presença de dois conjuntos corais em contraponto com predominância nas vozes masculinas, e quando encenada um corpo de baile que se fará presente nas danças:- Danza Indígena;- Festa spagnola;- Pavesa... la piazza, la chiesa. Esta última com o acréscimo de uma banda interna e de um coro.
CARLOS GOMES E A OBRA DO COLOMBO
Para concluir esta introdução, gostaria de ler o texto de CARLOS GOMES, enviado em carta a um de seus amigos, demonstrando o seu humor sobre a obra:"Já sabes que não era possível deixar passar este centenário colombiano sem dar sinal de vida. O tal 'nhô-Colombo' andou em 1492 agarrando macacos pelo mato e metendo medo na gente. Eu, porém, que sou meio 'home', meio 'macaco velho', acabo de me vingar dele, pois agarrei no tal 'nhô-Colombo" e botei-o em música desde o Dó mais grave até a nota mais aguda da rua da amargura. Estou vingado, arre diabo!"
I PARTE
Esta primeira parte caracteriza-se por dois momentos concomitantes:
1. O navegante Cristóvão Colombo, insiste junto às cortes de Veneza e Gênova, para que financiem seu plano de ir ao Oriente, navegando para o Ocidente via Oceano Atlântico. Os italianos o consideram um visionário. Na falta de apoio, foi a Portugal onde pediu ajuda a D. João II, que ouvindo seus conselheiros, que diziam que a terra não poderia ser habitada do outro lado do hemisfério. Comenta-se que na ocasião os portugueses teriam enviado uma expedição em segredo para verificar a rota proposta por Colombo e sem sucesso. Sabendo disso, Colombo vai para a Espanha. Por recomendação do Duque de Madina Celi, junto à rainha Isabel, Colombo vai ao convento de LA RABIDA, inicialmente para contar a seu amigo, o Frei Juan Perez, confessor da rainha, a ouvir sua história e tentar sensibilizar a rainha e o rei a ouvir seu intento.
2. Paralelamente ouve-se uma cena interna que acontece no interior do convento, onde acontecem cerimônias religiosas.A partitura descreve, inicialmente uma noite fria e escura onde que mistura às vozes do mar, murmúrios da ventania e o canto dos pescadores. Mergulhado em dúvidas e incertezas, ele se perde nesse ambiente descrito pela orquestra. Há um contraste acentuado entre o altivo canto dos marinheiros e as expressões amarguradas de Colombo. Mas em breve as tristezas se dissipam através de animada expressão da orquestra. Os sonhos empolgam sua mente visionária, mas ao seu redor tudo é agitação com os rumores do mar e da ventania que, num crescendo fragoroso, atingem a intensidade máxima. O genovês caminha dentro da noite e agora, num ambiente calmo, os acordes de um órgão o envolvem trazendo tranqüilidade ao seu ânimo. É uma prece à Virgem entoada por vozes femininas às quais se reúnem vozes masculinas numa oração vespertina.
Colombo bate à porta do convento e, ao irmão superior que o atende, faz sentir em adequada linha melódica seu estado de alma que considera “miserável”. Sucedem-se as perguntas do frade e ele, num entusiasmo arrebatado, acaba por descrever a visão do novo mundo. O coro do convento parece querer acalmar o seu calor e, respondendo a mais uma pergunta do religioso, Colombo confessa que existe, sim, outra força que o impele ao triunfo. É a desdita de um amor. Num recitativo, ele narra sua história sentimental que a orquestra amplia liricamente numa expressão de beleza e de ternura. Recorda o passado: “Parecia a primeira flor desabrochando no jardim do Senhor”. Colombo ama e com a renúncia consegue forças para sua grande jornada ao desconhecido. O superior o aconselhe. Deveria abandonar aquelas idéias difíceis e recolher-se ao claustro. O genovês continua inabalável porque há uma nova terra a descobrir. Melodia persuasiva do frade insiste em leva-lo a vestir o hábito. A resposta de Colombo é um hino à audácia e à gloria. A oração vespertina chega ao fim com o “Te Deum” e, após um “Hosana” único pronunciado pelos solistas, vozes, órgão e orquestra, conduz ao tema da vitória que ressoa na pujança dos metais. São louvores ao Senhor.
II PARTE
Na corte. O rei Fernando de Castela está em guerra com os Mouros de Granada e suas constantes vitórias sobre o Islam, são celebradas com imponência, não dando chance de poder ouvir tal absurdo de um tal de Colombo. Apesar disso, Colombo consegue expor seus planos aos doutos da corte, no conselho de Salamanca, mas as negociações financeiras dificultam um acordo: ele deseja obter o título de ALMIRANTE GERAL DA FROTA DOS OCEANOS e o título de VICE REI das terras que ele descobrir, além de 10% dos lucros da viagem.Pela falta de decisão do reino de Castela, Colombo pensa de ir á França para expor suas idéias, mas Fernando de Castela vence os Mouros e os expulsa do solo espanhol. Pela simpatia, A rainha Isabel manda chamar Colombo para comemorar a Vitório sobre os árabes. Os povos presentes à cerimônia, mães e esposas dos combatentes, em coro, manifestam o seu contentamento porque a guerra terminara.Nessa atmosfera, o Frei Juan Perez, leva seu amigo à presença da corte para que exponha seu plano de viva voz.Ante o rei descrente, ele descreve as maravilhas do novo continente. A orquestra resplandece as expressões luminosas do genovês a ponto de conseguir, para a sua jornada, o interesse da rainha.As discordâncias da corte em breve não são mais discordâncias e todos compartilham da mesma resolução: Colombo deverá ser atendido. Há uma torrente coral e orquestral sobre a qual a voz de Colombo se destaca, dignificando o caminho que o conduzirá ao radioso destino.
O rei concorda com a rainha e resolve dar a Colombo, para o ousado cometimento e ordena-lhe que parta imediatamente, oferecendo-lhe os navios (Santa Maria, Pinta e Niña) e uma tripulação de 90 condenados divididos nos três navios, tendo em vista a dificuldade de conseguir marinheiros para navegar para o desconhecido. A tripulação não incluía nenhum religioso, pois a expedição possuía um caráter Mercadante comercial.
SANTA MARIA era o maior deles com 30 metros de comprimento, enquanto que PINTA possuía a metade do tamanho e NIÑA era um pouco menor ainda.
Colombo então partiu do porto de PALOS a 3 de agosto de 1492.
O coro com um “Hosana” imponente. E a melodia de Colombo mais parece, naquela magnificência, um pronunciamento de fé e de bravura. É uma espécie de hino heróico.
III PARTE
Em alto mar. Surge uma repentina calmaria, que na orquestra é representada nos 35 primeiros compassos, quando ouvimos Colombo comentar com seus marinheiros a situação: “o céu é puro e o mar está calmo... que silêncio... é um presságio de morte”Os marinheiros comentam estas palavras. Repentinamente surge um vento ríspido e ao longe ouvem-se trovões. Um vento norte, que traz a tempestade. Colombo adverte seus marinheiros para que fiquem atentos, que fiquem alertas. Logo o mar se agita e todos ao mesmo tempo, tem manifestações opostas, uns agradecem pelo vento, com as expressões de “OSANA” e outros se apavoram, pedindo “MISERICÓRDIA” para suportar a tormenta À medida que o vento e as ondas tomam novos rumos de grande tempestade e o barco fica sem controle e o mastro se quebra, há um pânico geral de todos. Em meio ao desespero generalizado, os marinheiros se rebelam e exigem retornar, temendo por suas vidas. O navegador procura acalmar a todos, apelando para a ‘FÉ EM DEUS“.Cessa a borrasca, e volta a tranqüilidade ao mar e ao navio. Colombo, rende graças a Deus porque nada de mais grave aconteceu, utilizando frases como:“O DIVINA PIEDADE” “ILHA ABENÇOADA”Nesse ínterim, ouve-se um tiro de um canhão vindo do NIÑA. Um grito ansioso, afinal era o deslumbre da terra prometida: “TERRA, TERRA”. Esse grito acontece dia 11 de outubro.
Há uma grande agitação entre todos, e as preces voltam a ecoar, como forma de agradecimento por finalmente ter chegado a um porto seguro.
Assim finaliza a terceira parte.
IV PARTE
A quarta parte é marcada por duas seções:
1. A primeira indica a chegada à terra firme no dia 12 de outubro. A expedição desembarca nas ilhas das BAHAMAS, achando que estavam chegando às Índias ou no reino de CIPANGO no Japão. Colombo chama o lugar de San Salvador. Num primeiro momento os marinheiros observam na praia os habitantes locais que se divertem nas beira da praia com suas danças, ao notarem que ao longe há navios, eles correm para o interior da mata assustados e observam de longe o que vai acontecer. Os marinheiros para mostrar que são do bem também realizam suas danças e aos poucos o indígenas vão aderindo aos festejos sem saber o que realmente está acontecendo. Colombo ao chegar em terra ajoelha-se e beija o solo e toma posse das novas terras em nome de Fernando e Isabel. Todos ficam extasiados com a imponência e a beleza das novas terras.
2. Na segunda seção, de volta à Espanha na Baía de Barcelona, que está em festa, Colombo e seus homens entram na corte onde são recebidos em grande apoteose. Sinos, fanfarras militares, muita alegria, e tudo se prepara para entoar um “Hino ao novo mundo” – AVE. O TERRA OCCIDENTAL. A música é uma exaltação de grandiosidade e de beleza. Colombo, Isabella, Fernando, o Frade com o coral expandem o seu entusiasmo num transporte arrebatador.

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