O que acontece com nossa cultura? O Brasil nunca foi muito ''chegado" em "cultura geral", só no Samba, Bossa Nova e outras manifestações populares. Afinal este tipo de manifestação consegue obter patrocínios de ponta, com altos investimentos. As TVs e as Rádios dedicam-se 24 horas por dia à divulgação da chamada arte popular. Milhões de dólares são aplicados (legalmente?) nas escolas de samba, afim de investirem na pompa e na riqueza de suas escolas, para tudo virar cinza em apenas uma hora e meia depois de cruzar as avenidas de nossas cidades. Por que tanto para uns e tão pouco para outros?
Por que ao sintonizar qualquer emissora de rádio, raramente conseguimos ouvir um Brahms, Mozart, Beethoven, nem uma peça de um compositor vivo. Ou na TV, uma Ópera, um Ballet, ou um concerto local ou internacional? Por que os programas para a Juventude – concertos matinais dos domingos saíram do ar? Por que o Ministério da Cultura foi desativado? Por que a nossa "Pró-memória foi extinta? Porque a Funarte, Inacem, Embrafilme, etc., etc, etc., não existem mais? Por que não tem mais a Lei Sarney?
Pergunto mais uma vez: o que aconteceu com a nossa cultura? Já se passou um ano e... nada. Nosso Presidente pratica esportes arrojados, coloca um Zico como Secretário nacional de esportes e um pobre ilustre desconhecido, para uma secretaria de cultura inerte, morta e... Nunca desde a posse de nosso Presidente ouvi dizer que o Presidente foi assistir um concerto matinal ou qualquer outro concerto em qualquer teatro de qualquer cidade brasileira. Creio que o esporte é muito importante para desenvolver o físico, mas não podemos desenvolver o outro lado do ser humano: o Cérebro. Não estamos pedindo para que o governo dê dinheiro, não precisamos disso, necessariamente, mas precisamos ter condições materiais para que possamos ir atrás do dinheiro para a realização de nossos eventos artísticos de qualquer espécie. Em todas as épocas existiram "Mecenas"; havendo disposição política do governo em propiciar meios, os mecenas do século XX e XXI vão aparecer de novo.
O que está faltando para o Brasil? Em primeiro lugar precisaria parar de se falar em crise. A crise é provocada por nós mesmos, que não podemos aceitar mudanças e contingências novas e até diferentes. Quem é o culpado? O ministério, o governo, o povo, quem? Todos nós somos culpados, pois sempre encontramos o fantástico "jeitinho brasileiro" para burlar e resolver muitos problemas. As artes não podem estar dependendo do "jeitinho". As manifestações intelectuais em todos os níveis e implicam em circunstâncias propícias para a criação e realização.
Por que a cultura não sensibiliza o povo e os governantes?
Em primeiro lugar: as artes necessitam de voltar às escolas, não como matérias obrigatórias e com avaliações estúpidas e inúteis. A criação artística não pode ficar restrita a um conceito ou uma nota, e sim a apenas uma atitude espontânea de criação.
Quando menciono que as artes devem voltar às escolas não estou mereferindo à ultrapassada e morta "EDUCAÇÃO ARTÍSTICA". Nome muito bonito, mas nada funcional, senão vejamos: um professor de Educação Artística tem que ser artista plástico, costureiro, artesão, prenda doméstica, músico, bailarino, cozinheiro e etc. etc. Você poderá dizer, mas quem pode sereste super professor? É verdade, mas as escolas "Superiores" continuam colocando no mundo escolar brasileiro, ainda "superprofessores" desses. O que não me conformo é que ainda existem alunos para estas escolas.
Todas as escolas do mundo (menos no Brasil), possuem professores em cadaárea artística para atender ao interesse artístico dos alunos interessados. Asartes não podem ser impostas, mas tem de ser espontâneas.
Acredito que nossos ministros e secretários de educação, em vez deficarem "SÓ" se preocupando com a mensalidade escolar, deveriam procurarreformular o curriculum escolar e adequá-lo a um país jovem como é onosso. Nossos alunos estão desejosos de que a cultura, manifestações artísticas, aconteçam nas escolas. Eu sou testemunha disso. Já trabalhei como professor e músico em quase todo o país, inclusive nos interiores de norte a sul do Brasil.
Quando implantamos um projeto de educação artística, no verdadeiro sentidoda palavra, com mestres em todas as áreas, as crianças, algumas delas andavam vários quilômetros a pé, para participar das oficinas de música, artesplásticas, artes manuais e outras. Depois deste trabalho as crianças recebiam o almoço e entravam na atividade curricular oficial. Posso assegurar aosleitores, que as crianças, de uma maneira geral, que participavam deste tipo deatividade eram muito mais brilhantes nas atividades escolares que aquelas que não participavam. As crianças que participavam das atividades artísticas erammuito mais disciplinadas e ao mesmo tempo felizes, porque? A atividade cultural disciplina, abre novas perspectivas de vida. Este método utilizado em escolas públicas, deu resultado por longos anos e ainda continua dando. Hoje trabalhando aqui no Paraná, já pude saber de ex-crianças deste período, que hoje são músicos eminentes em orquestras brasileiras, outros foram para o exterior e estudam música se preparando para uma carreira internacional. Menciono exemplo de músicos, pois sou músico. Posso dizer que eu mesmo sou fruto de um trabalho deste, aqui no interior do Paraná, onde morei e estudei.
O segundo ponto que considero importante é o Lar. Não sei se deveria mencionar como primeiro e segundo. Para mim os dois pontos são tão importantes, que deveriam estar em primeiro lugar, e ambos se confundem.
O cultivo cultural na escola e no lar concomitantemente são a receita certa para o grande "Bolo" da festa cultural. Quando os pais vão ao teatro, aos museus, às salas de exposições, gastam dinheiro comprando quadros, partituras,vídeos de música, assistem ballet, teatro, ópera, concertos, estão levando os filhos a participar como um todo da formação cultural da nova geração que fará o "Brasil Novo" de amanhã. Uma visão e uma iniciativa global da cultura é o melhor leque de formação, pois o lar sendo o berço da cultura, esta cultura vai chegar às escolas e ao povo de maneira geral. O hábito de ir, ver, participar, só pode acontecer se houver uma prática constante dessas atitudes.
Porque a Televisão e o Rádio têm que ser nosso único modelo cultural, com os terríveis programas que nossas emissoras oferecem?
Se esse hábito não existe, para obtê-lo é só começar. Por vezes precisa até deuma programação de tempo e de dinheiro, mas posso assegurar que não éapenas gratificante, é essencialmente gratificante e necessário para nossaformação diária. Não posso conceber um ser humano equilibrado e feliz, longe da cultura.
Quando o Brasil começar a dedicar tempo e dinheiro para a formação cultural de nosso povo, realmente o Brasil vai se tornar uma elite econômica, social e cultural da humanidade. Muito mais que isso, vai tornar-se efetivamente oceleiro da humanidade. Senão vejamos:
O Brasil é nato na música, na dança, nas artes plásticas, artesanato e muitas outras coisas. Só precisa aperfeiçoar e desenvolver mais as aptidões naturais do povo. Você já pensou neste mundaréu de gente? Com toda esta potencialidade, poderíamos revirar a humanidade.
Gostaria de fazer um apelo: que tal começar a ser feliz agora? Por que não programar, destinando tempo e dinheiro à prática diária da cultura, num processo de culturação? Muita coisa poderemos fazer por nós, e tenho certeza que quando o povo começar a pedir mais, o governo vai ter que se virar para proporcionar os meios.
O artista depende do povo, pois é para o povo que nós fazemos e criamosnossa arte. Quando o povo começar a curtir música em todos os níveis, ballet,ópera, teatro, etc, etc, os teatros e salas de espetáculos, serão pequenas e em pequeno número, para tanta manifestação cultural.
Não podemos esperar o nascimento de outro VilIa-Lobos ou outro Mário de Andrade, para defender os nossos interesses artísticos educacionais. Cadacidadão poderá fazer a sua parte, inclusive instigando os governos a criaremuma política cultural a fim de atender a todas as manifestações da cultura, assim como, apoiando e incentivando os grupos e artistas; abolir velhas idéias e velhos idiotas monopolizadores, mercenários que usurpam da cultura para seus benefícios próprios, necessitando colocar os artistas e as manifestaçõesartísticas todos na mesma estrada, seguindo por caminhos amplos e semrestrições. Somente assim poderemos ter um Brasil melhor.
"O BRASIL AINDA PODERÁ SER UM PAÍS SÉRIO..." faço votos.
Apollon Musagete – Ano I, pág 4 – Curitiba, 1991
Por que ao sintonizar qualquer emissora de rádio, raramente conseguimos ouvir um Brahms, Mozart, Beethoven, nem uma peça de um compositor vivo. Ou na TV, uma Ópera, um Ballet, ou um concerto local ou internacional? Por que os programas para a Juventude – concertos matinais dos domingos saíram do ar? Por que o Ministério da Cultura foi desativado? Por que a nossa "Pró-memória foi extinta? Porque a Funarte, Inacem, Embrafilme, etc., etc, etc., não existem mais? Por que não tem mais a Lei Sarney?
Pergunto mais uma vez: o que aconteceu com a nossa cultura? Já se passou um ano e... nada. Nosso Presidente pratica esportes arrojados, coloca um Zico como Secretário nacional de esportes e um pobre ilustre desconhecido, para uma secretaria de cultura inerte, morta e... Nunca desde a posse de nosso Presidente ouvi dizer que o Presidente foi assistir um concerto matinal ou qualquer outro concerto em qualquer teatro de qualquer cidade brasileira. Creio que o esporte é muito importante para desenvolver o físico, mas não podemos desenvolver o outro lado do ser humano: o Cérebro. Não estamos pedindo para que o governo dê dinheiro, não precisamos disso, necessariamente, mas precisamos ter condições materiais para que possamos ir atrás do dinheiro para a realização de nossos eventos artísticos de qualquer espécie. Em todas as épocas existiram "Mecenas"; havendo disposição política do governo em propiciar meios, os mecenas do século XX e XXI vão aparecer de novo.
O que está faltando para o Brasil? Em primeiro lugar precisaria parar de se falar em crise. A crise é provocada por nós mesmos, que não podemos aceitar mudanças e contingências novas e até diferentes. Quem é o culpado? O ministério, o governo, o povo, quem? Todos nós somos culpados, pois sempre encontramos o fantástico "jeitinho brasileiro" para burlar e resolver muitos problemas. As artes não podem estar dependendo do "jeitinho". As manifestações intelectuais em todos os níveis e implicam em circunstâncias propícias para a criação e realização.
Por que a cultura não sensibiliza o povo e os governantes?
Em primeiro lugar: as artes necessitam de voltar às escolas, não como matérias obrigatórias e com avaliações estúpidas e inúteis. A criação artística não pode ficar restrita a um conceito ou uma nota, e sim a apenas uma atitude espontânea de criação.
Quando menciono que as artes devem voltar às escolas não estou mereferindo à ultrapassada e morta "EDUCAÇÃO ARTÍSTICA". Nome muito bonito, mas nada funcional, senão vejamos: um professor de Educação Artística tem que ser artista plástico, costureiro, artesão, prenda doméstica, músico, bailarino, cozinheiro e etc. etc. Você poderá dizer, mas quem pode sereste super professor? É verdade, mas as escolas "Superiores" continuam colocando no mundo escolar brasileiro, ainda "superprofessores" desses. O que não me conformo é que ainda existem alunos para estas escolas.
Todas as escolas do mundo (menos no Brasil), possuem professores em cadaárea artística para atender ao interesse artístico dos alunos interessados. Asartes não podem ser impostas, mas tem de ser espontâneas.
Acredito que nossos ministros e secretários de educação, em vez deficarem "SÓ" se preocupando com a mensalidade escolar, deveriam procurarreformular o curriculum escolar e adequá-lo a um país jovem como é onosso. Nossos alunos estão desejosos de que a cultura, manifestações artísticas, aconteçam nas escolas. Eu sou testemunha disso. Já trabalhei como professor e músico em quase todo o país, inclusive nos interiores de norte a sul do Brasil.
Quando implantamos um projeto de educação artística, no verdadeiro sentidoda palavra, com mestres em todas as áreas, as crianças, algumas delas andavam vários quilômetros a pé, para participar das oficinas de música, artesplásticas, artes manuais e outras. Depois deste trabalho as crianças recebiam o almoço e entravam na atividade curricular oficial. Posso assegurar aosleitores, que as crianças, de uma maneira geral, que participavam deste tipo deatividade eram muito mais brilhantes nas atividades escolares que aquelas que não participavam. As crianças que participavam das atividades artísticas erammuito mais disciplinadas e ao mesmo tempo felizes, porque? A atividade cultural disciplina, abre novas perspectivas de vida. Este método utilizado em escolas públicas, deu resultado por longos anos e ainda continua dando. Hoje trabalhando aqui no Paraná, já pude saber de ex-crianças deste período, que hoje são músicos eminentes em orquestras brasileiras, outros foram para o exterior e estudam música se preparando para uma carreira internacional. Menciono exemplo de músicos, pois sou músico. Posso dizer que eu mesmo sou fruto de um trabalho deste, aqui no interior do Paraná, onde morei e estudei.
O segundo ponto que considero importante é o Lar. Não sei se deveria mencionar como primeiro e segundo. Para mim os dois pontos são tão importantes, que deveriam estar em primeiro lugar, e ambos se confundem.
O cultivo cultural na escola e no lar concomitantemente são a receita certa para o grande "Bolo" da festa cultural. Quando os pais vão ao teatro, aos museus, às salas de exposições, gastam dinheiro comprando quadros, partituras,vídeos de música, assistem ballet, teatro, ópera, concertos, estão levando os filhos a participar como um todo da formação cultural da nova geração que fará o "Brasil Novo" de amanhã. Uma visão e uma iniciativa global da cultura é o melhor leque de formação, pois o lar sendo o berço da cultura, esta cultura vai chegar às escolas e ao povo de maneira geral. O hábito de ir, ver, participar, só pode acontecer se houver uma prática constante dessas atitudes.
Porque a Televisão e o Rádio têm que ser nosso único modelo cultural, com os terríveis programas que nossas emissoras oferecem?
Se esse hábito não existe, para obtê-lo é só começar. Por vezes precisa até deuma programação de tempo e de dinheiro, mas posso assegurar que não éapenas gratificante, é essencialmente gratificante e necessário para nossaformação diária. Não posso conceber um ser humano equilibrado e feliz, longe da cultura.
Quando o Brasil começar a dedicar tempo e dinheiro para a formação cultural de nosso povo, realmente o Brasil vai se tornar uma elite econômica, social e cultural da humanidade. Muito mais que isso, vai tornar-se efetivamente oceleiro da humanidade. Senão vejamos:
O Brasil é nato na música, na dança, nas artes plásticas, artesanato e muitas outras coisas. Só precisa aperfeiçoar e desenvolver mais as aptidões naturais do povo. Você já pensou neste mundaréu de gente? Com toda esta potencialidade, poderíamos revirar a humanidade.
Gostaria de fazer um apelo: que tal começar a ser feliz agora? Por que não programar, destinando tempo e dinheiro à prática diária da cultura, num processo de culturação? Muita coisa poderemos fazer por nós, e tenho certeza que quando o povo começar a pedir mais, o governo vai ter que se virar para proporcionar os meios.
O artista depende do povo, pois é para o povo que nós fazemos e criamosnossa arte. Quando o povo começar a curtir música em todos os níveis, ballet,ópera, teatro, etc, etc, os teatros e salas de espetáculos, serão pequenas e em pequeno número, para tanta manifestação cultural.
Não podemos esperar o nascimento de outro VilIa-Lobos ou outro Mário de Andrade, para defender os nossos interesses artísticos educacionais. Cadacidadão poderá fazer a sua parte, inclusive instigando os governos a criaremuma política cultural a fim de atender a todas as manifestações da cultura, assim como, apoiando e incentivando os grupos e artistas; abolir velhas idéias e velhos idiotas monopolizadores, mercenários que usurpam da cultura para seus benefícios próprios, necessitando colocar os artistas e as manifestaçõesartísticas todos na mesma estrada, seguindo por caminhos amplos e semrestrições. Somente assim poderemos ter um Brasil melhor.
"O BRASIL AINDA PODERÁ SER UM PAÍS SÉRIO..." faço votos.
Apollon Musagete – Ano I, pág 4 – Curitiba, 1991
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