segunda-feira, maio 21, 2007

FOLCLORE: razões contemporâneas

I - INTRODUÇÃO
Este estudo foi realizado e publicado para a Discoteca Pública de S. Paulo (1974), por ocasião do 29º. Concurso Mario de Andrade sobre o Folclore Nacional.
Hoje (2007) a realidade é quase estagnada, a não pelo surgimento de outros meios de diversão, como a Internet, celulares de todos os tipos e modelos, jogos eletrônicos, iPod, Pen Drive com Mp3, TV por assinatura a cabo e via satélite, DVD, entre outras modalidades que todos conhecemos, que não estavam em voga no período que realizei este estudo. Em muitos casos pouco se sabe das origens de alguma coisa ou mesmo as crianças nunca ouviram falar em qualquer manifestação folclórica empírica, se é que ainda existe alguma. Hoje as poucas manifestações se transformaram em filões monetários que enriquecem seus empresários.
Ao traçar o plano de realização deste trabalho, persegui um objetivo que me pareceu plenamente satisfatório e realizável, principalmente levando em conta o lugar escolhido para a pesquisa. Julgava encontrar em Itapecerica de Serra e no Embu (SP) os elementos necessários que proporcionariam boas condições, boas informações e tornando exeqüível aquilo que havia proposto: “Cirandas e Brincadeiras Infantis”. Todavia, a época e as circunstâncias desviaram-me do plano inicial e impuseram-se fatores novos, conduzindo-me por outro caminho a ser estudado e pesquisado.
Feito um levantamento do problema, pude constatar que o progresso ameaça consumir o folclore, mais especificamente os veículos de comunicação, dentro os quais a televisão assume posição privilegiada. A televisão apodera-se cada vez mais do homem e da criança conseqüentemente, roubando-lhe o tempo, a iniciativa, a disposição e a criatividade.
Uma média de 100 casas foram visitadas abrangendo todos os níveis sociais; desde a mais requintada à mais simples casa de “pau a pique” de um cômodo apenas, que por pouco não acompanha a ribanceira, todas possuem televisão. As crianças e brincadeiras coletivas desapareceram, restando apenas o pegador (não considero o footbal como folclore). Esse “progresso” determina um amadurecimento mental mais avançado que o amadurecimento físico e daí, a razão do desequilíbrio que traz uma série de outros conflitos.
Diante de tal realidade e em meio a tantas perguntas, destaco uma hipótese na qual esta embasado o trabalho que apresento: O progresso trará contribuições para o folclore ou irá extingui-lo?
Há uma verdadeira luta entre artesões e máquinas; a comercialização avança implacavelmente a procura de maior quantidade e menor qualidade. Afinal, o importante é vender, aumentar divisas, projetar o trabalho e até se possível no mercado exterior; o trabalho feito à mão demora muito, e a urgência do tempo não admite tal lerdeza e a máquina resolve esse problema, pelo menos de forma parcial.
Então o que fazer? A tecnologia está ás portas e tem a sua vez; e assim a escassez de dinheiro e de recursos obriga o pobre artesão a vir tentar a vida em S. Paulo ou em uma outra grande cidade brasileira.
Quem morre primeiro? O sonho ou o sonhador? A cidade grande não pode parar e o progresso continua.
Na pesquisa feita, foram visitadas 25 ruas, num total de 103 casas. As famílias visitadas possuem de 1 a 9 filhos, sendo que a faixa etária predominante vão dos 4 aos 12 anos.
Das 103 casas visitadas, 88 possuem televisão. Como propósito inicial, a pesquisa visava sobre as diversões infantis, na qual, constatamos que o footbal, a bicicleta, a brincadeira de casinha, brincadeira de carrinho, pegador e raras brincadeiras de roda são as diversões predominantes, estando estas contidas na faixa etária mencionada e estando respectivamente em ordem de importância.

II - DECLÍNIO DO FOLCLORE
Todo o material que consegui reunir aponta par uma única alternativa – o folclore coletivo tente a se extinguir e cada vez mais tem menos chances de sobrevivência; a comercialização envolve as pessoas de maneira a não deixar nenhuma possibilidade de prática natural daquele folclore simples e sincero que brota de dentro da alma e que é realizado pela vontade de fazer, de realizar, tendo por base a fé inabalável nas crendices que mantém a confiança popular.
“A culpa é do povo daqui que se sente envergonhado de se apresentar numa congada. Não encontrei ninguém na mocidade para continuar”. É este o triste e sombrio desabafo daquele que talvez seja o último rei-congo de S. Sebastião.
Um senhor de 71 anos também prevê o fim do seu reinado; ele acha que a Congada vai acabar e que não há quem continue o seu trabalho. Neco, como é chamado, termina o seu reinado e termina com ele o último rei-congo.
Outras danças afro-brasileiras também estão se extinguindo: o Jongo, o Moçambique e o Batuque que só acontece em ocasiões muito especiais, com muito esforço e sem a mesma espontaneidade que lhe era peculiar.
Sorocaba guarda a história e a literatura das suas antigas batucadas. Piracicaba luta com todas as forças para manter suas tradições folclóricas e os batuqueiros mais novos estão com 40 anos e estão reduzidos de 100 para 30 pares.
Além dos problemas citados, convém lembrar que algumas festas foram proibidas por alguns párocos que afirmam que tais festas estão mais revestidas de profanismo do que de fé.
Surgem novos problemas, novos atritos, novas preocupações e a polêmica assume proporções ainda maiores; parece impossível conter a realidade e há quase que um desespero que envolve a todos que se interessam e tentam uma solução mais humana, mais complacente; todavia, o tempo não dá trégua.
As crianças dos apartamentos vivem em plena ditadura, nas gavetas que formam os edifícios, não tem direito a nenhum outro espaço além daquele que lhe foi racionado e imposto. É o próprio termo do desequilibro: o céu é lá em cima, a terra é lá em baixo.
As estatísticas sempre provam aquilo que seus manipuladores querem que seja provado e não correspondem à realidade. Por exemplo aqui em S. Paulo, as estatísticas indicam que cada habitante dispõe de pouco mais de quatro metros quadrados de área livre, quando o mínimo ideal seria de 23 metros quadrados para as crianças poderem brincar, viver ao ar livre conhecer árvores e bichos.
“Mamãe não deixa sair muito na rua. Tem carro demais passando e caminhão e ônibus. Ela fica com medo que aconteça alguma coisa e diz que é para mim ficar em casa, fazendo o dever da escola.” Pobre criança!
E a ciranda? Que houve? Emudeceram-na? Não, não é isso, os pais têm medo que os filhos sejam seqüestrados; a poluição? É melhor ficar em casa. Os edifícios são muito altos e do 10º. Andar não dá para ouvir a serenata.
Na cidadezinha? Lá a televisão também já chegou. É a melhor maneira de manter as crianças dentro de casa.
Assim o tempo foge e junto com ele fogem também as esperanças das últimas Congadas, dos últimos Batuques, fogem também os últimos sons das últimas Cirandas que ainda ecoam no nosso ouvido de infância – ciranda cirandinha, vamos todos...

III - CAUSAS QUE DETERMINAM ESSE DECLÍNIO
As causas que determinam tal problema parecem invisíveis, no entanto são extremamente visíveis e palpáveis; acontece uma espécie de fenômeno. Os recursos a serem citados são tremendamente evolventes, são inclusive massificadores forçando todos a pensarem a mesma coisa, consumirem os mesmos produtos, usarem as mesmas palavras, numa tentativa de despersonalizar e criar uma pseudo-unidade humana o que se torna um verdadeiro absurdo.
Somos bombardeados a cada semana, a cada dia, a cada hora, a cara minuto que passa; são mensagens do mais alto interesse orientadas por comerciantes, empresários, psicólogos e muitos outros sádicos que fazem de tudo para conseguir mais dinheiro. Embora o problema na realidade se apresenta desta forma, não nos parece tão grave assim, pelo fato de ser exposto e apresentado de maneira tão atraente, quando são usadas frases bem combinadas, frases de impressionam junto as quais são projetadas imagens de alegria, bem estar, progresso, sucesso e êxito. Existem técnicos no assunto, gente especializada e bem remunerada que cuidadosamente e inteligentemente desenvolve sua função.
Quase sempre, temos uma perfeita convicção de que essas mensagens não nos influenciam e não nos atingem, todavia, se pararmos um pouco e observarmos como as coisas se desenvolvem e fizermos uma análise imparcial do nosso comportamento, chegaremos a triste conclusão de que por incrível que pareça o alvo foi atingido inapelavelmente.
Na verdade é difícil evitarmos ser vítimas dessas terríveis manipuladores; ninguém gosta e nem quer ser autômato, mas a circunstancia é essa e tudo concorre e contribui para que isso aconteça.
É uma espécie de vírus contagioso, seu contágio é mortal. Alastra-se com incrível facilidade e atinge desde o mais alto e competente executivo até ao mais simples lavrador ou operário que luta com todas as forças tentando conseguir um dia a dia um pouco melhor. Parece um contra-senso, mas fazer o quê? É o progresso, é a globalização é a comunicação, é o milagre da eletrônica, é o mundo das maravilhas; maravilhas que correm o homem destituindo-o do seu lugar e dando chance a uma máquina.
Afinal, tudo isso é necessário, não podemos viver sem o auxílio de um automóvel, de uma geladeira, de uma máquina de lavar, ou de qualquer outra máquina que muitas vezes até nos proporciona um pouco de prazer, todavia, o folclore se ressente disso. O projeto de grandes rodovias acaba com pequenas cidades e com suas tradições também; as grandes represas que moverão hidroelétricas inundarão cidades e regiões, extinguindo assim importantes centros de folclore regional.
As novas gerações crescem influenciadas e dominadas pelas mensagens da época e envergonham-se do folclore; o tempo é outro, os interesses também, vivemos na época dos ídolos que nada são além de peças na mão de produtores e empresários que montam o quebra-cabeça de maneira que melhor lhes convém.
Assim o tempo passa e cada vez há menos tempo para pensar nestas e outras coisas, menos tempo para assistir estas coisas. O folclore vai ficando relegado ao desprezo; acabam-se as festas, acabam-se as danças e o folclore fica sem participantes e sem expectadores. Uma vez por ano, no mês do folclore, realizam uma grande concentração; é um grande esforço para evitar a catástrofe final, esforço este pago a duras penas pelas características do tipo de concentração; há pouca originalidade e muito interesse comercial, muito cinegrafista, muito repórter, muito fotógrafo, todos contribuindo para que não haja espontaneidade e haja sim, algumas vezes, aquela vontade simples, natural e ingênua de aparecer, vontade esta que prejudica quem está participando e quem esta assistindo. Ainda assim, creio que este tipo de iniciativa tem o seu valor funcionando como o último remédio que prolonga um pouco mais a existência do folclore.
Para comprovar e tornar mais evidentes os problemas e causas que determinam o declínio do Folclore, nos dias 12 a 19 de Setembro, lancei-me a uma pesquisa que abrangeu 5 diferentes veículos de comunicação, pesquisa esta cujo resultados mostram claramente a influência de tais veículos que chegam a ditar novos costumes, alterando o comportamento do povo e persuadindo-o a ponto de quase estereotipá-lo.

a) Out Door
Durante o período desta pesquisa feita nos mais distintos pontos da cidade, foram expostos em out door propagandas de 12 gêneros que perfazem um total de 99 produtos e artigo diferentes para serem consumidos.

Produtos Alimentícios:
10 produtos diferentes – Cica, Kibon, Brejeiro, Toddy, Chocolate Nestlé, Sal Cisne, Café Pelé, Copenhagen, Matte Leão, Bauduco.
Porcentagem o total: 15.3%

Cigarro:
5 produtos diferentes – Wembley, LS, Arizona, Continental, Mont Blanc.
Porcentagem total: 10,4%

Automóveis:
3 produtos diferentes – Passat, Dodge 1.800, Chevette.
Porcentagem do total: 3,1%

Bebidas:
14 produtos diferentes – Skol, Drurys, Old Eight, Crush, Campari, Seven Up, Royal Label, Martini, Pespi, Old Mill, Fanta, Antártica, Coca-Cola, Dreher
Porcentagem do total: 8,1 %

Artigos de Vestuário:
15 produtos diferentes – Ducal, Pull Sport, Conga, Arco Puma, U.S. TOP, Calça Enxuta, Lenços Presidente, Meias Lupo, Dropgal Tergal, Calças TOK2, Freud Forme, Perlene, Rhodianil.
Porcentagem do total: 19,3%

Produtos de Utilidades Domésticas e Eletrodomésticos:
10 produtos diferentes – Jasmim, Bom Bril, Tapete Bandeirante, Lares, Ducha Corona, Eletrorádio Braz, Lorenzeti, Tintas Arcor, Gás encanado, Iguatemi.
Porcentagem do total: 6,1%

Aparelhos Elétricos:
9 produtos diferentes – Arno, Colorado RQ, Philco, Sharp, Mitsubishi, Clímax, Philips, Aiko, Telefunken.
Porcentagem do total: 10,1%

Remédios:
5 produtos diferentes – Biotônico, Check Up, Bayer, Cebion, Calcigenol.
Porcentagem do total: 7,1%

Produtos de Beleza:
4 produtos diferentes – Alert, Brutt, Nívea, Kolynos.
Porcentagem do total: 3,7%

Bancos:
3 produtos diferentes – Banespa, Banco das Nações, Banco Auxiliar.
Porcentagem do total: 2,6%

Campanhas e Propagandas:
9 produtos diferentes – Jockei Club; Cristo vem, prepara-te; Circo Moscou; Telesp; Loteria Federal; Vote em Carvalho Pinto; Jackson Five; Barba Azul; Campanha de Energia.
Porcentagem do total: 11,1%

Vários:
12 produtos diferentes – Atlantic, Village, Condugel, Pirelle, Capotas Pisoletro, Piscinas Aquaul, M Promar, Lajes Guarani, Papelria Dux, Tintas Arcor, Davox, Artebor.
Porcentagem do total: 3,1%

b) Revistas
Com o mesmo objetivo e no mesmo período (12 – 19 de setembro), efetuei uma pesquisa em 5 das principais revistas do país (mais vendidas) fazendo um levantamento dos assuntos sobre os quais existem mais artigos e conseqüentemente mais interesse.

Revistas pesquisadas: Manchete, Cruzeiro, Veja, Realidade, POP.
Ciências - 10 artigos
Economia - 5 artigos
Política - 14 artigos
Religião - 2 artigos
Psicologia (o que se deve fazer, se fez, etc...) - 8 artigos
Culinária - 1 artigo
Moda - 5 artigos
Geografia - 8 artigos
Esporte - 4 artigos
Literatura - 2 artigos
Policial - 1 artigo
TV, Cinema, Rádio, Shows - 11 artigos
Indústria - 5 artigos
Entrevistas pessoais ou coletivas de imprensa - 18 artigos
Contos - 3 artigos
Arte - 5 artigos
Fofoca - 9 artigos
Humor - 8 artigos


c) Cinema
A pesquisa abrangeu as seguintes casas de Cinema da capital paulista:
Alamo, Árcades, Art-Palácio (sala São João e sala São Paulo), Arizona, Augustus, Áurea Srtip Show, Barão, Bijou, Bijou (sala Sérgio Cardoso), Brigadeiro, Bruni, Cairo Can-Can, Cinespecial, Comodoro, Copan, Coral, Esplanada, Flamingo, Ipiranga, Jóia, Los Angeles, Marabá, Marrocos, Marrocos-Pullman, Metro-Metrópole, Moulin Rouge, Niterói, Nippon, Oásis, Olido, Ouro, Paissandu, Paissandu (sala Império), Palácio do Cinema, Sala Bretagne, Pedro II, Pigalle, Pigalle (mini sala), Premier, Rancho Regina, República, Rio Branco (sala Vermelha e Sala Azul), Saci, Scala, Texas e Windsor.
Nos 51 cinemas citados foram feitas 561 apresentações de filmes.

Amor e Sexo: 205 apresentações - Porcentagem do total: 36,5%

Histórico e Aventura: 189 apresentações - Porcentagem do total: 33,7%

Policial: 167 apresentações - Porcentagem do total: 29,8%

Informações Baseadas na Bolsa de Cinema – período 12/09 a 19/09:
1° Lugar - Filmes de Drama (50,8%)
2° Lugar - Filmes de Aventura (32,5%)
3° Lugar - Filmes de Comédia (16,7%)

d) Rádios
Escolhi 2 rádios que reputo situadas entre as melhores de São Paulo: Rádio Eldorado e Rádio Bandeirantes.
Apresento aqui o computo geral da programação durante oito dias (12/09 a 19/09) das rádios citadas.

Rádio Eldorado
Nome do Programa Quantidade de Programas Quantas horas
Noticia 14 10 horas
Música Erudita 14 30 horas e 10 minutos
Músicas do Momento 14 10 horas e 30 minutos
Música Pop Americana 7 7 horas
Música Sertaneja - -
Esportes 7 1 hora e 45 minutos
Programa Religioso - -
Diversos (Papo, etc.) - -
Música Pop Brasileira 14 14 horas

Rádio Bandeirantes
Noticia 21 15 horas e 10 minutos
Música Erudita - -
Músicas do Momento 14 28 horas
Música Pop Americana 7 10 horas e 30 minutos
Música Sertaneja 7 3 horas e 30 minutos
Esportes 21 10 horas
Programa Religioso 7 3 horas e 30 minutos
Diversos (Papo, etc.) 28 24 horas e 50 minutos
Música Pop Brasileira 7 7 horas

e) Televisão
A programação diária dos nossos canais de televisão sofre um déficit de programas culturais e superávit de comerciais, tendo-se em conta que a única exceção é o canal 2 que mantém toda a sua programação sem se desviar do seu propósito primordial: cultura.
Levantamento aproximado da programação diária dos canais de televisão de São Paulo.

Canal 2 – TV Cultura
Cultura - 19 programas
Esporte - 2 programas
Cinema - 5 programas
Notícia - 2 programas
Diversos - 6 programas

Canal 4 – TV Tupi
Cultura - 1 programa
Esporte - 2 programas
Notícia - 2 programas
Novelas - 4 programas
Filmes - 15 programas
Humor - 2 programas
Infantil - 2 programas
Diversos - 9 programas

Canal 5 – TV Globo
Cultura - 2 programas
Infantil - 2 programas
Novelas - 3 programas
Filmes - 27 programas
Humor - 3 programas
Notícia - 10 programas
Diversos - 2 programas

Canal 7 – TV Record
Cultura - 1 programa
Infantil - 13 programas
Notícia - 2 programas
Filmes - 27 programas
Humor - 1 programa
Diversos - 10 programas

Canal 11 – TV Gazeta
Cultura - 6 programas
Notícia - 4 programas
Esporte - 3 programas
Filmes - 2 programas
Diversos - 5 programas

Canal 13 – TV Bandeirantes
Cultura - 2 programas
Noticia - 5 programas
Esporte - 1 programa
Infantil - 3 programas
Humor - 1 programa
Filmes - 9 programas
Diversos - 4 programas

IV - SOBREVIVÊNCIA DO FOLCLORE
Comunidade – um aglomerado de casas na mesma região em circunstâncias idênticas; é o que resta. Não há tempo para convívio, calor humano, ajuda mútua, tudo se resume num: cada qual cuida de si e Deus cuida de todos.
Em meio a tamanha confusão restam ainda alguns aficionados. Apesar da industrialização e das técnicas modernas que fazem maravilhas, o artesanato ainda consegue sobreviver no barro, na madeira e no couro dada a colocação sempre maior que se vem dando às peças rústicas na arte da decoração. Mesmo assim, ele tem sofrido algum desgaste em decorrência das imitações, do rareamento de alguns tipos de matéria-prima, da fabricação em série de certos utensílios domésticos e da falta de apoio necessário que poderiam proporcionar uma condição de trabalho um pouco melhor aos artesãos.
Deixarei que eles próprios falem; com simplicidade, com dificuldade, mas algumas vezes com mágoa.

ENTREVISTA I - O “mestre Jonas” tem peças suas no exterior, já foi manchete, reportagem de várias páginas coloridas das principais revistas do país, Está agora em São Paulo e trabalha na Fábrica de Móveis “Capelinha”.

PERGUNTA: Quem lhe ensinou a trabalhar com este tipo de trabalho?
RESPOSTA: Eu nunca tive mestre nisso, comecei sozinho. Um negócio que se chama fome, necessidade, me fez aprender a entalhar à mão.
P: - O senhor trabalhava por conta própria?
R: - Eu trabalhava por conta própria. Aprendi a trabalhar numa oficina de um senhor na Bahia, só que aprendi marcenaria. Eu gostava de ver as pessoas entalhar, então quis aprender entalhamento, se você quer então você quer então você aprende. Eu fui treinando na oficina, mas sozinho, porque não havia mestre na oficina. Depois fui-me dedicando, um outro senhor que tinhas em Itabuna, por sinal um grande marceneiro, me convidou para fazer um serviço para ele. Eu fiz e ele gostou. Depois achei que não devia mais ser empregado que não dava. Depois de entalhar eu passei a alta marcenaria, só marcenaria colonial exclusivamente móveis de estilho talhados em Jacarandá da Bahia. Trabalhei muito tempo à mão fazendo o serviço artístico, não trabalhava noutra coisa.
P: - Trabalhava por encomendas?
R: - Por encomendas, só para a burguesia de Salvador, Rio de Janeiro e Ilhéus. Só Jacarandá, exclusivamente Jacarandá, não trabalhava com outra madeira. Serviço feito a mão. Vieram pesquisas do Governo Federal, fotografou tudo, passou três a quatro horas anotando, traziam oito folhas datilografadas para eu responder, sobre este mesmo assunto. Parou a minha oficina quase no meio do dia com esse negócio. Entraram com a ajuda do Governo Federal, desta ajuda vieram mais dois impostos que eu não estava pagando. Mas assim mesmo fui trabalhando, trabalhando, mas agora acaba o Jacarandá. Fui forçado a vir pra São Paulo agora estou trabalhado de empregado. Acredito que não seja por toda a vida. Gosto muito de trabalhar por minha conta. Espero colocar uma oficina para eu fazer aquilo que eu desejo, porque fazer aquilo que outro esboçou como ele quis...
P: - Perde a criatividade?
R: - É o seguinte: aqui em São Paulo, por exemplo, não obedecem rigorosamente o estilo de móveis. Alguém criou um móvel por lá Luís XVI, Luís XV, Império. Nenhum é Império, tudo é misturado.
P: - O senhor fazia?
R: - Eu fazia Império puro.
P: - Como o senhor adquiria este conhecimento do modelo dos móveis?
R: - Surgiu aquele negócio dos móveis antigos, todo o mundo só queria móveis autênticos. Passavam na oficina para eu fazer o retoque do móvel que tinha quebrado um pedacinho, queriam que eu retocasse, arrumasse aquilo para vender para os Antiquários de São Paulo, Rio, Salvador e outros lugares. Então quando aquelas fazendas traziam os móveis eu dizia: só posso fazer isso se me trouxerem o desenho para eu fazer o negócio. Claro que traziam, então eu copiava e partindo daquele eu fabricava para os outros o móvel autêntico - cópia fiel em todos os detalhes. Depois eu comprei livros de marcenaria, técnicas de trabalhos manuais e os estudei, também um pouco de desenho arquitetônico para poder proteger o móvel. Hoje estou entalhando aqui.
P: - Há quanto tempo está neste negócio?
R: - Há 23 anos que eu comecei a profissão.
P: - Lá o senhor fazia tudo a mão?
R: - Entalhe a mão, mas o resto a máquina.
P: - O entalhe somente a mão?
R: - É o entalhe só a mão. O entalhe fica perfeito a mão. Ninguém o consegue fazer à máquina tão bem feito quanto à mão.
P: - O senhor que já viveu mais que a gente sabe que trabalha com arte não teve ter muita ilusão. Mas às vezes, no decorres dos acontecimentos, acontece alguma coisa com relação ao trabalho da gente, que deixa a gente alegre, satisfeito, que a gente diz: pelo menos uma vez eu me realizei. O senhor lembra de algum momento destes?
R: - Todo entalhador tem a mania de achar bonito o seu serviço. Quando ele o faz. Por outro lado o entalhador é nervoso e não pe muito certo do Juízo. Eu acho que o mais normal que eu encontrei por aí, fui eu... Eu conheço entalhadores que dão de 50 a 0 em mim, que se batem, dão murros na cara deles, batem a cabeça, fazem de tudo. Mas eles olham para o senhor, tiram as linhas características do seu rosto e mandam-lhe busto pronto. Só de olhar eles gravam.
P: - O senhor faz isto?
R: - Não, eu não sou escultor, mas ele é entalhador e escultor. Ele faz tudo mas é doido. Ele vê uma moldura, por exemplo, perfeita. Ele olha, vai para casa e faz igual sem esquecer nenhum detalhe.
P: - A mente grava todos os detalhes?
R: - Várias vezes eu estava deitado lá num quarto sozinho em ITABUNA e eu via uma moldura de um espelho bonita, então eu levantava e ia desenhar, já dentro da madrugada por vezes.
P: O senhor via, imaginava a moldura...
R: e eu via a moldura com todos os detalhes inclusive o tamanho, com todos os realces, curvas, todos os detalhes. Então a gente levanta e risca. Não modifica nada. Fica gravado como um vídeo tape. Todo entalhador pode fazer isso.
P: - Ouvi falar que na sua região o senhor foi o pioneiro e depois mais dois seguiram o senhor?
R: - Não, mas na minha oficina dois aprenderam comigo, mas eles não são entalhadores, eles são marceneiros. Entalhador só tem um que ainda não é completo, falta muita coisa. Ele entalha, mas se dissermos pra ele: eu quero uma peça em tal estilo, ele não sabe fazer.
P: - O senhor trouxe dois para cá?
R: - De lá eu trouxe dois.
P: - O senhor nunca recebeu proposta para expor trabalhos?
R: - A gente recebe, mas eles não têm interesse em explorar. Até da França, dos Estados Unidos vieram. Tenho as cartas lá em casa, propondo comprar toda a produção, por intermédio de uma casa lá do Rio de Janeiro, que vende móveis para o estrangeiro. Agora tive um convite para trabalhar, ou melhor, para tomar conta de uma industria de móveis, é uma das maiores do Brasil, instalada em Ilhéus, de um italiano, fiz teste passei. Eles instalaram em outubro do ano passado, passaram até afora para instalar, eu não agüentei esperar, porque tive que vender a oficina, por falta de Jacarandá.
P: - A oficina era sua?
R: - Era. Tive que vender porque não tinha condição de trabalhar. Não tinha matéria-prima, e me mandei para cá.
P: - O que o senhor acha do nível de trabalho daqui?
R: - Conheço poucos aqui em São Paulo. Tem um tal de Eloi que é muito bom, até demais.
P: - O consumo deste material é grande?
R: - É muito grande, o pessoal compra muito. O melhor artesanato do Brasil acabou.
P: - Por que acabou?
R: - A máquina tomou conta do artesanato, Tem ainda algumas pessoas que mantém, está cheio de talhadores em São Paulo. Mas se lhe derem uma tábua bruta para trabalhar, ele não sabe, só se vier da Esbocadeira.
P: - Quer dizer que a máquina corta tudo e o cara só faz o arremate?
R: - Ele só tem que limpar. Ele não é artesão. A maioria dos entalhadores de São Paulo ao fazem nada a não ser com a máquina. Lá na Bahia quase todos são entalhadores manuais.
P: - A máquina ainda não chegou?
R: - A máquina já chegou lá, mas o baiano rico mesmo, ele que o que é bom. Se ele encomenda um móvel se fizer mal feito pode ter certeza que ele não leva. Eles sabem bem quando está bem feito ou mal feito. Ele não é ludibriado fácil não. Aqui em São Paulo sai cada serviço que dá até vergonha e o freguês acha que está lindo ‘pra burro’. Tem serviço que dá dó. Mas lá na Bahia falou que é sobre encomenda tem que ser perfeito, se não, não vende. Tem aquele serviço que se faz por conta, mais barato. Chega lá um freguês que procura o barato, então sim, ele não está preocupado se é bom, então compra. Agora sob encomenda bem feito... Só sai bem feito.
P: - Quanto o senhor gasta para fazer uma moldura destas? (grande: mais ou menos 1 metro de altura por 1,5 de largura, toda vazada e trabalhada).
R: - A mão, mais ou menos 15 dias seguidos de árduo trabalho.
P: - Quanto pode custar uma moldura destas?
R: - Mais ou menos 500,00. Lá a mobília completa, maciça, trabalhada, custa no máximo 7.000,00.
P: - O senhor tem uma visão completa do assunto?
R: - Claro, eu olho assim, e já sei se existe alguma coisa desequilibrada. Todo material tem que ser bem raspado para poder polir.
P: - Na sua família havia alguma pessoa que trabalhava com isso?
R: - Bom, meu irmão era marceneiro, outro é carpinteiro, meu pai foi o que mais divergiu, ele era sapateiro.
P: - Nem o senhor sabia que tinha facilidade de fazer estas coisas?
R: - Toda a vida eu tive vontade. Tinha duas vontades: entalhador e rádio telegrafista, mas só fiquei com entalhamento. Mas vou sair, pois pagam muito pouco aqui.
P: - O senhor ganha mais que o salário mínimo?
R: - Quase cinco salários.
P: - Quantos filhos têm o senhor?
R: - Eu tenho cinco filhos, pagando colégio.
P: - Pretende parar de trabalhar com madeira?
R: - Não, continuo com madeira. Só paro entalhamento. Mas quero ter minha própria oficina, este negócio de trabalhar para outros não dá pé.
P: - Onde o senhor mora?
R: - Av. Sabim, 46 – Capão Redondo.
P: - Quando chegou aqui em São Paulo?
R: - Cheguei agora em junho.
P: - O senhor ganha como?
R: - Eu ganho por hora, aos domingos tenho que vir fazer hora extra para aumentar o eu tutu.
P: - Quanto o senhor ganha por hora?
R: - 8,00 por hora.

ENTREVISTA II - Dona Aidil Oliveira Matos, muito atarefada e assustada não quis me atender; sua prima Rose é que me deu as informações.
P: - A quanto tempo você está aqui?
R: - 5 anos, aqui em Embaú.
P: - Você já esteve em outro lugar antes?
R: - Não, mas já fazia antes destas coisas assim...
P: - Vocês que exploram o trabalho dela?
R: - Não, ela mesmo faz os trabalhos, ela aos poucos foi crescendo e fazendo. Ela antes fazia só em casa. Quem comprava estas coisas normalmente eram os próprios parentes e amigos. Ela não podia montar uma loja visto ter filhos pequenos, mas agora à cinco anos ela montou e vai indo muito bem.
P: - Você trabalha com ela a bastante tempo?
R: - A muito tempo, antes mesmo de vir para cá. Eu sou filha do tio.
P: - Você gosta deste trabalho?
R: - Gosto muito.
P: - Você tem idéia de quantas pessoas entram aqui aos domingos?
R: - Não faço idéia, mas entram muitas pessoas.
P: - Quanto custa uma peça destas?
R: - 50,00.
P: - Vocês têm um modelo para fazer? Como é que faz?
R: - É moldado a mão sem modelo, criada na hora e faz. Então ela guarda uma como modelo e faz as outras.
P: - Ela faz uma por uma à mão?
R: - Sim.
P: - Você modela também?
R: - Não, eu não sei modelar, só faço acabamento e pintura.
P: - Ela é estrangeira?
R: - Não, ela é brasileira.

ENTREVISTA III - visita a um manufaturador de peças de madeira
P: - Há muito tempo que vocês trabalha aqui?
R: - Aqui em Embu à três meses, mas eu trabalhava em São Paulo.
P: - Com este mesmo tipo de trabalho?
R: - Sim, inclusive nós temos uma loja.
P: - Aonde vocês adquirem este tipo de material?
R: - Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
P: - Vocês têm alguma pessoa que trabalha para vocês para adquirir este material?
R: - Eu tenho meu pai que compra este material depois vende aqui para nós, nós aqui fazemos a montagem e todo o trabalho que precisa.
P: - O que era originalmente esta peça?
R: - Eram Boulandeiras, engrenagem de um engenho moedor, por exemplo de fazer farinha.
P: - Você sempre trabalhou com este tipo de coisas?
R: - Não, a partir da idade de 18 anos.
P: - Com quem você aprendeu a fazer este trabalho?
R: - Eu sempre me interessei por este tipo de afazer. Nós morávamos em Santa Catarina e transportávamos peixes e camarões para o CEASA aqui em São Paulo. Depois começamos a transportar este tipo de material de Kombi para vender aqui no Embu, como em São Paulo, com o tempo fomos tendo condições de trabalhar para nosso ramo e pouco a pouco montamos algumas lojas. Então meu pai, mãe e eu trabalhamos assim.
P: - Qual o teu nome?
R: - Manuel.
P: - Aqui mesmo vocês fazem as peças?
R: - Aqui mesmo nos fazemos e vendemos. Muitas vezes vem o cliente e faz o pedido como ele quer. Então nos fazemos a peça como ele quer. Muitos também vêm comprar o que temos. Nós também fazemos peças a nosso gosto. Os clientes que querem as peças expostas podem comprar.
P: - Quanto custa esta mesinha com a cadeira?
R: - Só a mesinha custa 800,00, mas com a cadeira fica por 1.000,00.
P: - Qual a madeira que vocês mais usam aqui?
R: - Canela, Peroba, Jacarandá e Cabriuna.

ENTREVISTA IV - Manufaturador de couro e madeira
P: Que material o senhor usa para escurecer a madeira?
R: - Nogueira, cera.
P: - O senhor já trabalha neste setor há muito tempo?
R: - 5 anos
P: - Sempre aqui no Embu?
R: Sempre.
P: - De onde vem o material?
R: De Minas Gerais.
P: - Há abundância de peças do gênero?
R: - Não, agora já está desaparecendo.
P: - Que peça é esta?
R: - Esta é um cocho que está se transformando num vaso, jardineira.
P: - Este material tem muita saída?
R: - Sim.
P: - Quantas pessoas vêm por domingo aqui?
R: - Isto é muito difícil de dizer, porque há domingos que vem 200 pessoas ou mais e há domingos que podem vir 20 ou 50 pessoas, ou mais das que já mencionamos. É muito relativo, visto haver muita exposição em São Paulo.
P: - O senhor tem alguém na família que já trabalhava com isso?
R: - Não, mas quando a gente começa a trabalhar com isto, a gente vicia.
P: - Antes de o senhor trabalhar com isto, o senhor fazia o que?
R: - Eu sou Arquiteto, e deixei para me dedicar a este trabalho. Cursei meu curso em Porto Alegre.
P: - O senhor é brasileiro?
R: - Não, sou Alemão, nasci em Berlim. Vim de lá com 13 anos de idade.
P: - Qual o nome do seu atelier?
R: - Tapera.
P: - O senhor trabalha com couro?
R: - Eu sou o mais antigo aqui em Embu. Não tenho quase nada porque trabalho quase por encomenda. Só faço peça grande. Sou o pioneiro no ramo.
P: - O couro vem de onde?
R: - São Paulo e Rio Grande do Sul.
P: - Como vem o couro, em que estado vem?
R: - Ele vem cru e eu trabalho-o aqui.
P: - O senhor faz todo o trabalho a mão?
R: - Todo, inclusive a pintura.
P: - A máquina aqui não tem vez?
R: - Não pode. Todo o trabalho deve ser feito a mão. Eu sou assessor do Prefeito, por isto tenho de dar o exemplo.
P: - Há muitas pessoas que aproveitam o ramo para fazer negócio?
R: - Tem muitos que fazem a máquina para que o rendimento seja maior. Nós estamos fazendo o possível para acabar com esse tipo de comércio. Aqui no Embu tem muito oportunismo. Nós queremos fazer uma feira só para industrias, mas atualmente não temos quase condições de saber quem são os industriais ou não, muitos estão se aproveitando desta brecha. Mas pouco a pouco estamos nos familiarizando com eles.
P: - A peça depois de pronta parece muito simples...
R: - Parece, mas dá muito trabalho para fazer estas peças manualmente.
P: - A turma consome muito?
R: - No domingo vem muita gente, mas eles procuram somente o barato e não o bem feito, porque a maioria não tem condições de avaliar se o trabalho é ou não perfeito. Mas por outro lado tem as pessoas que vem procurar o bom sem se preocupar com o dinheiro. O importante é a qualidade, mas já esta degenerando para a comercialização. Ainda existem aqueles que sabem apreciar, quando os trabalhos são bem ou mal feitos. A maior parte procura o preço.
P: - O senhor usa alguns instrumentos para facilitar o trabalho, como por exemplo, faquinhas ou coisas parecidas?
R: Nós usamos alguns pequenos instrumentos para cortar e perfurar o couro; mas antes de trabalharmos nele, fica dependendo da sola até uma hora. Molha na água mesmo. A costura é feita também com fio de couro.
P: - O senhor tem condições de criar uma coisa e patentear esta peça?
R: - Não.
P: - Então deve haver aqueles que vivem as custas dos outros, apenas copiando o que os outros idealizam?
R: - 80% mais ou menos, não só no couro, mas também na madeira acontece o mesmo. Eles vêm a loja, olham e gravam mentalmente e depois fazem igual ao que viram. Eles não têm condições de projetar.
P: - Tem muita gente de São Paulo que mora lá e vem aqui para vender no domingo?
R: - Tem, a maior parte tem atelier de móveis aqui.
P: - Para a pessoa trabalhar, ou melhor, vender aqui, qual o requisito?
R: - Ele tem que vir aqui na oficina fazer um teste. Ele deve costurar uma bolsa, se ele costurar, ele tem condições de vender, pois nos interessa de preservar a manufatura, então muitos deles vêm aqui na realidade costuram, mas aquelas que eles vendem muitas vezes são comparadas em São Paulo e depois vedem como se fossem eles os manufatoristas. No domingo ele mistura as que ele fez mais compram as duas e não acham diferença.
P: - Existem fábricas que fazem em séries e depois vem vender aqui?
R: - Tem, inclusive há máquinas que costuram com tal perfeição que engana qualquer pessoa. Inclusive a pintura. Tudo. Nós temos fiscais que andam pela feira, mas eles não têm condição de controle.
P: - A secretaria de Turismo tem interesse em não deixar virar comércio?
R: Ah, não há duvida. Aparecem inclusive peças de plástico e acrílico. Tem muitas firmas que possuem empregados, fazem a mão, mas não deixa de ser uma indústria.

ENTREVISTA V – Indivíduo que empresariou o trabalho de alguns escultores, que não quis se identificar.
P: - Trabalha há muito tempo com isto?
R: - Mais ou menos dois anos.
P: - De onde vem o material?
R: - Santa Catarina
P: - Ainda há muita matéria prima para fazer este tipo de trabalho?
R: - Não, já há pouco. A procura é grande e há uma grande concorrência.
P: - Você tem pessoas que recolhem o material?
R: - Eu tenho, só vou lá pegar. Estou armazenando o máximo que puder, pois está chegando ao fim. O material é muito pouco.
P: - De onde você conseguiu este pessoal que trabalha em madeira?
R: - Daqui mesmo. Fiz proposta para trabalhar comigo e ele mais estes amigos dele aceitaram e ai estão.
P: - A concorrência aqui no Embu é grande atualmente?
R: - É. Com este tipo de peças para cá, fomos nós que começamos. Peças catarinenses. O meu primo começou o trabalho aqui em madeira, depois nós. Agora todo o mundo tem.
P: - Você tem máquinas?
R: - Tenho: lixadeira e furadeira elétricas, mas o principal é feito à mão.
P: - Quem bola as idéias?
R: - eu. Sobretudo o cliente, também meus empregados, eu dou liberdade a eles de fazerem o que eles quiserem. Eles tem suficiente criatividade.

ENTREVISTA VI - Conversa com um dos escultores
P: - Com quantos anos você começou a mexer com isso?
R: - Aqui no Embu tem 10 anos, antes eu trabalhava em Minas Cachaembu. Levei minhas peças a uma exposição em Brasília.
P: - Antes você projeta o desenho?
R: - Antes eu faço o risco, depois eu faço a peça.
P: - Você estudou desenho?
R: - Nunca. É espontâneo
P: - Qual a melhor madeira para trabalhar?
R: - Qualquer madeira que não rache, mas eu gosto da Imbuia.
P: - Você faz tudo à mão?
R: - Tudo à mão.
P: - Quanto tempo você leva para fazer uma obra dessas?
R: - É muito relativo, mas pode levar até um mês.
P: - Qual o seu nome?
R: - Meu nome artístico é Dinho, mas meu nome real é Alfredo.
P: - Você tem alguma medalha?
R: Tenho uma medalha de prata e outras.


V – CONCLUSÃO
Creio que todas as informações apresentadas e documentadas e todos os números e dados estatísticos apontam uma verdade irrefutável, verdade embasada em fatos contra os quais não há argumentos (convincentes).
Ao afirmar isto, afirmo com tristeza e pesar, lamentando tal veracidade, todavia, convicto da sinceridade e honestidade das quais estou imbuído.
Agora concluo, observo tudo como se fora u sonho: meu objetivo proposto quando do início deste trabalho se contrapõe totalmente à realidade a que ele mesmo me conduziu. Nem sempre a verdade é tão agradável! No entanto, o seu valor é inerente a si mesma e nada mais podemos fazer além de aceitar ou não.
Infelizmente o folclore (coletivo) não resiste às impestuosas investidas do progresso e tende a desaparecer.
Concentremos nossa atenção nos artistas, heróis do barro, do couro e da madeira, aqueles que ainda mantém acesa a chama da sobrevivência do folclore; demos-lhes nosso apoio e incentivo, unamo-nos a eles e impeçamos a extinção total de nossas manifestações folclóricas.


VI - APENDICES
Por falta de conhecimentos não consegui inserir aqui os anexos. Estavam em forma de tabela e também não soube transforma-las em figura. Portanto se desejar conhecer a pesquisa na íntegra, posso lhe enviar por e-mail, é só me escrever. martinezemanuel2@gmail.com
Foram realizadas as seguintes pesquisas que estão inseridas em meu texto como anexos:

ANEXO 1 - PESQUISA DE CAMPO
LOCAL: Itapecirica da Serra e Embu (Estado de S. Paulo)
DATAS: 30 de agosto de 1974 a 13 de setembro de 1974

ANEXO 2 - CINEMA
A pesquisa envolveu 51 casas de projeção (cinemas) na capital paulista, num total de 561 filmes exibidos no mês de setembro de 1974.

ANEXO 3 - REVISTAS
Números editados no período que compreende 12 a 19 de setembro de 1974

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