segunda-feira, maio 21, 2007

O QUE É MUSICOTERAPIA

O homem não deve só enfrentar períodos de tensão, mas também desfrutar períodos de repouso correspondente. O so­no é uma das formas rudimentares corriqueiras e necessária para efetuar tal terapia; No entanto nem sempre resolve o problema; muitas vezes não conseguimos nem dormir tranqüilos, pois teremos o sono so­bressaltado devido ao grande núme­ro de preocupações que nos cir­cundam. A música a curto e longo prazo exerce efeito muito mais benéfico do que qualquer outro tipo de terapia. Contudo, não é toda mú­sica que serve para efetuar tal tra­balho. A música pode ser usada de diver­sas maneiras e em diversos lugares com diversos objetivos. Por exem­plo:

Nas escolas
Deve haver música nas escolas. Esta deve ser:
· Singela para que possa ser com­preendida e fixada pelo espírito;
· Viva e alegre para que emocio­ne e promova contentamento;
· Agradável, para que desperte interesse na atividade;
· Rítmica, para que se identifique com a vida que é ritmo.

Os cantos de ritmo suave e senti­mental são os mais apropriados para serenar a inquietude; ao contrário, à entrada e à saída de uma aula, de­vem ser empregados os cantos viva­zes que excitam os movimentos. (Teobaldo Miranda Santos).
· Criar o ambiente mais puro e o mais elevado possível.
· Proporcionar o sentido rítmico que leva a cultivar os temperamentos musicais e implantar na inteligência, noções fundamentais da or­dem e da atenção.
· Desenvolver a capacidade au­ditiva e a sensibilidade.
· Familiarizar singelamente com a idéia de que o movimento é mú­sica e que a música é movimento.

Nos consultórios
Por exemplo, num consultório odontológico a música tem muito que ver com a calma do paciente. Estudos e pesquisas indicam o se­guinte:
· A música nos consultórios de­veria ser devidamente selecionada em vez de deixar-se qualquer emis­sora de FM tocando o que der e vier. Um bom aparelho sonoro (gravador) deveria possuir a mais calma músi­ca para que predispusesse o pacien­te.
· Possuir literatura conveniente para que os pacientes pudessem dis­trair-se, sem se preocupar com o ruí­do emitido pêlos aparelhos de alta rotação.
· Tratar o paciente com amabili­dade para que o efeito obtido na sa­la de espera não seja totalmente per­dido.
· O que foi mencionado para o con­sultório odontológico pode ser apli­cado a qualquer tipo de consultó­rio, pois o problema é idêntico.

A música e seus efeitos
A música projeta as multidões em estado próximo ao hipnótico e, nes­sas circunstâncias, torna-as extrema­mente permeáveis à exortação de lí­deres políticos, seja para o bem ou para o mal. A música considerada em si mesma não pode ser boa ou má, moral ou imoral; aliás como su­cede em relação a todas as artes. Mas, de acordo com a orientação que o homem lhe imprime e a uti­liza, empresta-se-lhe uma indumen­tária sadia ou mórbida, excelente ou subversiva.
Mas se a música tem sido cúm­plice do despotismo, da corrupção e da decadência das nações, tem igualmente desencadeado, sob a inspiração de nobres ideologias, as mais gloriosas revoluções políticas e so­ciais, impondo-se como instrumen­to de ascensão de civilizações e po­vos: são os hinos que fazem as re­voluções, diz Eça de Queiroz.
Na realidade não há guerras sem música. A revolução francesa nas­ceu da filosofia de Voltaire e Rousseau, mas foi levada avante pelo im­pulso da Marseillese de Rouget de L'lsle. O que dizemos da França di­zemos da Polônia com a música de Chopin e Paderewski através das Polonaises. Quando as ouvimos qua­se podemos ouvir os passos firmes e pesados de homens resolutos, fa­zendo face às injustiças do destino.

O que é Musicoterapia?
Na Argentina, EUA, França e outros países, um tipo de terapia atra­vés da música tem sido muito de­senvolvida, levando o nome de Musicoterapia.
Como o nome indica, trata-se de uma terapia, ou seja, um método de tratamento que utiliza basicamente a música. Mas esta é uma defi­nição um pouco estreita. Mesmo sem estar doente, o indivíduo pode fazer a experiência da influência be­néfica de uma certa música sobre o seu espírito e sobre o corpo. Por outro lado, a música não é um me­dicamento que se aplica unicamen­te no exterior.
No Egito antigo, em meio a supers­tições e crenças, a música veio im­pondo-se como recurso de encanta­mento e de magia, susceptível de acarretar os efeitos mais diversos, inclusive a cura dos transtornos do corpo e do espírito. As primeiras re­ferências à influência da música so­bre o organismo humano foram en­contradas num papiro médico egíp­cio datado de 2500 A.C., descoberto em Kahum por Petrie em 1889.
Conforme célebre episódio bíbli­co ocorrido dez séculos antes de Cristo, o rei Saul era vítima de cri­ses periódicas de excitação psicomotora, nas quais, de acordo com o relato bíblico, ficava possuído por um espírito mau. Então, o jovem Da­vi dedilhava a sua harpa junto do rei e, expulsando o mau espirito por meio da música, fazia-o voltar à cal­ma. Mais tarde, como rei, Davi fun­dou uma escola de canto orfeônico que chegou a utilizar quatro mil can­tores.

A música na mitologia grega
Segundo refere Homero, Apoio era médico dos deuses, no Olimpo. Depois transmitiu os conhecimentos médicos ao centauro Quirão, que era também versado em música. Este último tratava toda a sorte de doen­ças com os sons de uma lira. Escu­lápio (filho de Apoio), tratava doen­tes fazendo-os ouvir cantos suaves e voluptuosos; Homero (precursor da filosofia de Platão), assinala; a música não foi concedida aos ho­mens pêlos deuses imortais com o fim somente de alegrar e de recrear seus sentimentos, mas ainda para apaziguar as perturbações de sua alma e os movimentos tumultuosos que experimenta um corpo cheio de imperfeições.
De acordo com a doutrina musi­cal dos gregos, cada um dos modos, assim como dos géneros e dos rit­mos, encerrava determinado poder moral. Esses caracteres morais atri­buídos à música constituíram o Ethos.
O modo frígio — excitava o furor e coragem; o modo lídio — levava à tristeza, arrependimento, contri­ção; o modo eólio — amor; o modo dórico — gravidade, reconhecimen­to, concentração.
A prática exclusiva dos exercícios ginásticos desenvolveria unilateral-mente a capacidade física dos indi­víduos. Seria preciso também culti­var o espírito. Por isso Platão acon­selhou a prática da música aos jo­vens. Só eram permitidos dois tipos de música: Violenta — adequada para a guerra. Tranqüila — propícia à prece e à concentração.
Asclepíades de Bitínia, retórico e depois médico em Roma, não só descreveu precisamente sintomas de doenças mentais e interpretou-os à luz de curiosas teorias, mas ainda preconizou normas de tratamento. Na sua opinião, a harmonia musical e um concerto de vozes eram me­didas terapêuticas de muito valor.

O emprego da Musicoterapia
Vemos que a Musicoterapia não é coisa nova. Pesquisas atualmente estão sendo feitas em centros espe­cializados. Na Argentina, nos EUA e, de maneira especial na França, no Centro ou Associação de Pesquisas e Aplicações de Técni­cas Psicomusicais.
São três os departamentos desta associação:
· musicoterapia e técnicas psico-musicais;
· educação e pedagogia;
· audio-analgésico.
Nos dois primeiros são feitos es­tudos nos quais a música possa fa­cilitar a assimilação no ensino, esti­mular a criatividade e a descontra-ção. O terceiro tem que ver diretamente com a audição de música, pe­la qual a dor pode ser atenuada.

A Musicoterapia receptiva
É aquela onde o indivíduo escuta música, é utilizada para curar psicoses, neuro­ses, angústia, etc.
O tratamento funciona da seguin­te maneira:
O paciente deverá submeter-se a essa terapia durante umas dez sema­nas, durante uma hora por semana em caráter individual. Se este siste­ma não surtir efeito submeta-se o paciente à musicoterapia de grupo, onde serão incluídos exercícios cor­porais diversos e expressão corpo­ral. Após alguns minutos de conver­sa com o paciente, saber-se-á seus gostos e seu estado.
O musicoterapeuta vai fazê-lo es­cutar três obras musicais com a du­ração global máxima de 20 minutos:
· Tentará refletir o humor do pa­ciente.
· Irá neutralizar os efeitos da pri­meira.
· Música calma, apaziguadora e reasseguradora.
Os pacientes não precisam conhe­cer música, basta apenas que sejam sensíveis a ela. Aliás, este trabalho não funciona muito com os músicos, porque em vez de ouvirem, anali­sam a obra que escutam.

A Musicoterapia Ativa
Falamos até agora da musicotera­pia receptiva. Temos também a ativa — é mais adaptada a crianças e a adolescentes com deficiências e anormais. Ela pratica-se em grupo. Cada participante irá tocar vários instrumentos. Permite liberar a agressividade e criar um espírito de grupo. O indivíduo reintegra-se na sociedade. Parece tudo muito fácil, mas há alguns problemas que vere­mos agora:

Como escolher a música apropriada?
Nós temos música e música; é pe­rigoso usar um medicamento cuja natureza se ignora. A música pode ser veículo de paixões perigosas do autor e por isso solicitar estas do ouvinte. Muitas vezes nos pergun­tam se realmente a música cura os problemas. Martin Geck responde: a música não pode curar algum pro­blema, ela pode somente nos colo­car na disposição de o combater.
A musicoterapia não pretende de forma alguma sobremontar a psico-terapia ou a quimioterapia. O objetivo é ajudar o paciente a galgar es­tados de tensão impostos pela vida moderna, o que favorece o uso de excitantes como o chá, café, cigarro, álcool e outras drogas. A musico­terapia foi utilizada com sucesso com alcoólatras e fumantes.
Vamos dar alguns exemplos de como usar a música nos diferentes casos, ou melhor, estados de espí­rito:

Influencias tonificantes
Grande marcha da Tannhauser de R. Wagner; Overture de Rienzi de R. Wagner; Abertura do concerto n° 1 de Tchaikovsky; Sinfonia n° 5 de Dvorak; Judeus, extraído da Morte e Vida de Gounod; ato n° V da ópera Fausto de Gounod; Minueto de Boccherini; Aida de Verdi, entre outras.

Influencias exaltantes
Daphnis et Cloé de Ravel; In Paradisum, final do Requiem op. 48 de Fauré; Lês Creatures de Prométhée de Beethoven; Serenata de Toselli; Adágio em sol m de Albioni.
Influencias relaxantes
Lago dos Cisnes de Tchaikowsky; Largo extraído da Xerxes de Haendel; Serenata de Schubert; Hino ao Sol de Rimski-Korsakov; Sonho de Amor de Lizt; Liebeslied de Krasiler; Fantasia e Fuga em sol m de Bach.

Influencias apaziguadoras
Canto Indu de Rimski-Korsakov; o Cisne de Saint-Saens; Cavaleria Rusticana de Mascagni; Ave Maria de Schubert; Requiem de Fauré; Reverie de Schubert; Ária da 3a suite de Bach.
Estes são alguns exemplos de mú­sica com funções determinadas. Ou­tras podem ser acrescentadas, e usa­das mediante o gosto de cada um. Deveríamos tomar mais tempo para estudar a boa música antes de cair­mos doentes.

Revista Mocidade No. 244 - Ano XX - No. 4 - Casa Publicadora Brasileira (S. Paulo). Abril de 1978
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NOTA
Estudei Musicoterapia na Associção Psico-musical de Paris em 1971 e no Seminaire Adventiste Sous-Saléve, na França em 1972

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