A MÚSICA BARROCA DE MINAS GERAIS
Autor: Antônio Campos
INTRODUÇÃO
Redescobrindo o passado musical brasileiro
No século XVIII, a capitania brasileira de Minas Gerais foi o destino de aventureiros numa corrida ao ouro, que gerou fortunas em Portugal e em seu principal fornecedor de produtos manufaturados, a Inglaterra, e também criou uma sociedade rica e refinada no próprio território das minas.
Esta sociedade gerou mestres artesãos, destacando-se o escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e o pintor Manuel da Costa Ataíde. Eles construíram inúmeras igrejas ricamente ornadas com o ouro da região, no estilo maneirista então predominante em Portugal.
A música estava presente nas cerimônias religiosas e em eventos especiais. Mas, como a imprensa não era permitida na colônia, ela circulava somente em manuscritos e, por esta limitação, passou mais de um século esquecida em antigos arquivos e baús. É o caso, por exemplo do compositor Joaquim de Paula Souza, cuja antífona de São Joaquim, Laudemus Virum Gloriosum <> acabou por chegar até nós, junto com outras poucas.
A partir de 1939, o musicólogo alemão (naturalizado uruguaio) Francisco Curt Lange(1903-1997), partindo da idéia de que uma civilização que gerou artistas como o Aleijadinho deveria ter gerado também mestres na arte da música, viajou pelo interior de Minas Gerais, adquirindo partituras das famílias dos antigos músicos.
Lange percorreu cidades como Prados, Mariana, São João d’El Rey e Tiradentes. No final dos anos 50, ele havia reunido milhares de partituras, cujo provável destino seria a destruição. Descobriu toda uma geração de músicos que, sem o seu zeloso trabalho, estaria condenada ao esquecimento.
Este é a introdução de uma série de artigos, nos quais será narrada a história da música barroca de Minas Gerais e seus principais compositores. Eles foram mestres de um estilo sem paralelo na história da música mundial, um verdadeiro amálgama das culturas portuguesa, indígena e africana, formadoras do nosso país.
AS ORIGENS: de 1553 a 1720.
A introdução da música, nos moldes europeus, no território das Minas Gerais, coincidiu com a primeira entrada na região em busca de prata, em 1553.
A expedição de Francisco de Espinosa partiu da vila de Porto Seguro e, subindo o rio Jequitinhonha, passou dois anos no interior, retornando pelo rio Pardo. O capelão da entrada era o jesuíta Juan Azpicuelta, de Navarra, parente de Ignácio de Loyola e carregava sempre em suas viagens um pequeno órgão.
Após a conversão dos nativos, a expedição fez construir em 1554, num ponto ao norte de Minas Gerais, uma pequena capela. Nela o capelão entoava cânticos à Virgem na língua dos indígenas, sendo acompanhado por eles. Azpicuelta morreu em 1555, logo após retornar a Porto Seguro.
Mas os verdadeiros desbravadores do território, os paulistas, costumavam utilizar as armas e não a música, para pacificar os nativos. Nos quase 150 anos que se seguiram antes da descoberta do ouro, suas expedições tornaram o território conhecido e praticamente exterminaram as tribos nativas Catauás.
Em algumas vilas que apoiavam estas expedições, como Mogi das Cruzes, foram encontrados manuscritos de música muito antigos, o que nos permite supor haver música nas cerimônias religiosas. Mogi das Cruzes produziu, já no século XVIII, o mais antigo compositor brasileiro cujas obras chegaram aos nossos dias, Faustino do Prado Xavier (1708-1800), cuja música sabemos ter sido apresentada em Minas.
Com a descoberta do ouro, deslocou-se para o território um grande número de portugueses, cristãos novos, paulistas e escravos. Sendo a maioria homens solteiros, tornaram-se comuns as ligações com escravas africanas ou mulatas livres, o que fez aumentar a população mestiça, libertada, ao nascer, por seus senhores.
Entre estes pardos inteligentes e fortes, destacaram-se pintores, escultores e músicos de valor, cujo talento conferiu às suas obras um caráter original e autóctone: eles foram os primeiros a criar uma arte brasileira.
Os primeiros músicos a chegar às Minas procediam de outros territórios brasileiros, como o Rio de Janeiro e a região Nordeste. Pouco se sabe sobre a atividade musical na primeira metade do século XVIII, embora existam registros de professores de música em Vila Rica em 1716.
Há também notícias de que, em 1717, já havia uma corporação de músicos em São João d"El Rey, regida por Antônio do Carmo, e que recebeu o Conde de Assumar com um Te Deum na Igreja Matriz. O mesmo Antônio recebeu em 1728 "quarenta oitavas de ouro" para reger a música nas festividades de São João, com orquestra e dois coros.
Nas festas religiosas, era comum a encenação de "autos" ligados sempre à música, sendo populares os de Calderón de la Barca. Nos adros das igrejas, apresentavam-se danças de origem portuguesa ou afro-brasileira, como o "Lundu", consideradas "imorais" (impróprias) pelos clérigos.
Com algumas exceções, toda a documentação da música colonial brasileira data da segunda metade do século XVIII. Admite-se que antes deste período ouviam-se nas igrejas polifonias portuguesas. Mesmo algumas obras antes consideradas de autores mineiros são de origem portuguesa, como por exemplo um Popule Meus, atribuído a Francisco Gomes da Rocha, que descobriu-se ter como autor o português Gines de Morata, do século XVI.
Estas foram as fontes musicais que inspirariam os grandes músicos mulatos que surgiram na segunda metade do século XVIII, como José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Marcos Coelho Neto e Manoel Dias de Oliveira.
A HEGEMONIA DA IGREJA: de 1720 a 1749
Religião oficial do Estado, a Igreja Católica vivia em regime de padroado, herdado de Portugal. Os bispos e vigários recebiam a "côngrua", como qualquer funcionário público, dependendo financeiramente do Rei. Este, por sua vez, tinha o título de "Grão-Mestre da Ordem de Cristo": era o comandante da cruzada evangelizadora das terras descobertas por Portugal.
A atividade mineradora gerou uma sociedade urbana unida em torno de uma capela, marco inicial da povoação. A padroeira destas capelas era uma invocação a Nossa Senhora, sob variados títulos, sendo freqüente o de N. Srª da Conceição, devoção importante em Portugal.
Com o aumento da população, os povoados eram promovidos a vilas, pré-requisito para possuírem uma igreja matriz. Em 1711, atingiram esta condição as vilas de Ribeirão do Carmo (Mariana), Vila Real de N. Srª da Conceição de Sabará e Vila Rica de N. Srª do Pilar de Ouro Preto e, em 1714, o arraial do Serro Frio passou a se chamar Vila do Príncipe.
O território das Minas foi dividido em quatro imensas comarcas (municípios): Vila Rica, Rio das Mortes, Sabará e Serro Frio. Em 1720, a região das minas foi desmembrada da capitania de São Paulo, sendo criada a capitania das Minas Gerais, cujo governo, com sede em Vila Rica, era subordinado diretamente a Portugal.
As capelas e ermidas foram sendo gradualmente substituídas pelas igrejas matrizes, já ornamentadas com o ouro extraído da região.
A ordem dos Jesuítas empenhou-se em erradicar o analfabetismo com seus colégios, onde ensinavam desde as primeiras letras até a gramática e o latim. Desde o século XVII a música era ensinada por seus mestres de capela. A ordem dos Franciscanos criou uma "Escola de Artes e Ofícios" em Vila Rica, em 1737. Entre os "ofícios", figurava o da música. Este ensino criou primeiro uma geração de músicos e, a partir da segunda metade do século XVIII, os mestres compositores, vistos sempre como artesãos.
No entanto, era preocupante a situação moral na capitania. As leis civis não eram observadas, e a concubinagem era generalizada.
Em 1727, frei Antônio de Guadalupe, bispo do Rio de Janeiro, denunciou ao Santo Ofício os comediantes ciganos de Vila Rica e outras partes da capitania, ameaçando de excomunhão a quem os assistisse. Os bispos pediram ao Rei e ao Vaticano autorização para fundar uma diocese na região, concedida em 1748, com a elevação da vila de Ribeirão do Carmo a cidade, com o nome de Mariana, sede do bispado.
Em 1749, a posse do Bispo D. Manuel da Cruz foi comemorada com três dias de festas, com teatro e música, ficando a celebração conhecida como "Áureo Trono Episcopal".
D. Manuel levou para Mariana uma coleção de músicas que incluía um passionário (com música para a paixão narrada pelos quatro evangelistas) assinado por Francisci Ludovici, ou Francisco Luís, compositor português do séc. XVII, o Cum descendentibus in lacum, de Gines de Morata (séc XVI), e o Manuscrito de Piranga, provável coleção de obras portuguesas setecentistas para a Semana Santa.
A instituição do bispado em Mariana consolidou a hegemonia cultural da Igreja, explicando porque a arte em Minas Gerais teve caráter quase que totalmente religioso.
COMPOSITORES DE 1750 A 1810
1. JOSÉ JOAQUIM EMERICO LOBO DE MESQUITA (1746-1805)
O maior dos compositores mineiros nasceu na Vila do Príncipe (atual Serro Frio), em 12/10/1746, e morreu no Rio de Janeiro em ?/04/1805. Mulato, filho de Joseph Lobo de Mesquita e de sua escrava Joaquina Emerenciana, foi libertado por seu pai ao nascer.
Iniciou-se em música com o padre Manuel da Costa Dantas, mestre-de-capela da Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Serro, participando ainda criança das atividades musicais na Matriz.
Antes de 1776 mudou-se para o Arraial do Tejuco (atual Diamantina). Em fins de 1783 ou início de 1784, foi admitido como organista na Matriz de Santo Antônio, sendo responsável pela instalação de seu órgão e, em 17/1/1789, ingressou na Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo. É provável que nesta época tenha estabelecido um curso de música em sua casa.
Alistou-se no Terço de Infantaria dos Pardos, onde chegou à patente de Alferes.
Com o declínio da mineração, deixou o Arraial e a Ordem do Carmo em meados de 1798, residindo durante um ano e meio na capital da Província, Vila Rica (atual Ouro Preto). Trabalhou como regente para a Irmandade do Santíssimo Sacramento, sediada na matriz de Nossa Senhora do Pilar, no período 1798-1799, e também para a Ordem Terceira do Carmo.
Em meados de 1800 abandonou Vila Rica, mudando-se para a capital da colônia, o Rio de Janeiro. De dezembro de 1801 até sua morte, foi o organista da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, no Largo do Carmo (atual Praça XV) com um salário de 40 mil-réis anuais, ficando claro que alcançou sua posição graças à grande fama que precedeu sua chegada.
De Lobo de Mesquita restaram cerca de 50 obras, mas são poucas as que se acham completas. Jamais se encontrou uma partitura autógrafa. Existem apenas dois originais do compositor, a Antífona de Nossa Senhora de 1787 e a Dominica in Palmis de 1782. Existe uma cópia em partitura do seu Tractus para o Sábado Santo de 1783, a mais antiga partitura mineira.
Apesar de não haver qualquer registro, é provável que tenha ensinado seu ofício ao jovem mestre de capela da Sé do Rio de Janeiro, o padre José Mauricio Nunes Garcia, uma vez que na época este procurava aperfeiçoar-se no órgão. Reforça esta teoria o fato de que uma das composições catalogadas como sendo deste último (Matinas para Quarta Feira de Trevas, CPM 214), é de fato da autoria de Lobo de Mesquita.
SUAS OBRAS
Antífonas:
Beata Mater, (sem data)
Regina Coeli, laetare, 1779
Salve Regina, 1787 Antífonas, para Quarta e Quinta-feira Santas, (sem data)
No século XVIII, a capitania brasileira de Minas Gerais foi o destino de aventureiros numa corrida ao ouro, que gerou fortunas em Portugal e em seu principal fornecedor de produtos manufaturados, a Inglaterra, e também criou uma sociedade rica e refinada no próprio território das minas.
Esta sociedade gerou mestres artesãos, destacando-se o escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e o pintor Manuel da Costa Ataíde. Eles construíram inúmeras igrejas ricamente ornadas com o ouro da região, no estilo maneirista então predominante em Portugal.
A música estava presente nas cerimônias religiosas e em eventos especiais. Mas, como a imprensa não era permitida na colônia, ela circulava somente em manuscritos e, por esta limitação, passou mais de um século esquecida em antigos arquivos e baús. É o caso, por exemplo do compositor Joaquim de Paula Souza, cuja antífona de São Joaquim, Laudemus Virum Gloriosum <> acabou por chegar até nós, junto com outras poucas.
A partir de 1939, o musicólogo alemão (naturalizado uruguaio) Francisco Curt Lange(1903-1997), partindo da idéia de que uma civilização que gerou artistas como o Aleijadinho deveria ter gerado também mestres na arte da música, viajou pelo interior de Minas Gerais, adquirindo partituras das famílias dos antigos músicos.
Lange percorreu cidades como Prados, Mariana, São João d’El Rey e Tiradentes. No final dos anos 50, ele havia reunido milhares de partituras, cujo provável destino seria a destruição. Descobriu toda uma geração de músicos que, sem o seu zeloso trabalho, estaria condenada ao esquecimento.
Este é a introdução de uma série de artigos, nos quais será narrada a história da música barroca de Minas Gerais e seus principais compositores. Eles foram mestres de um estilo sem paralelo na história da música mundial, um verdadeiro amálgama das culturas portuguesa, indígena e africana, formadoras do nosso país.
AS ORIGENS: de 1553 a 1720.
A introdução da música, nos moldes europeus, no território das Minas Gerais, coincidiu com a primeira entrada na região em busca de prata, em 1553.
A expedição de Francisco de Espinosa partiu da vila de Porto Seguro e, subindo o rio Jequitinhonha, passou dois anos no interior, retornando pelo rio Pardo. O capelão da entrada era o jesuíta Juan Azpicuelta, de Navarra, parente de Ignácio de Loyola e carregava sempre em suas viagens um pequeno órgão.
Após a conversão dos nativos, a expedição fez construir em 1554, num ponto ao norte de Minas Gerais, uma pequena capela. Nela o capelão entoava cânticos à Virgem na língua dos indígenas, sendo acompanhado por eles. Azpicuelta morreu em 1555, logo após retornar a Porto Seguro.
Mas os verdadeiros desbravadores do território, os paulistas, costumavam utilizar as armas e não a música, para pacificar os nativos. Nos quase 150 anos que se seguiram antes da descoberta do ouro, suas expedições tornaram o território conhecido e praticamente exterminaram as tribos nativas Catauás.
Em algumas vilas que apoiavam estas expedições, como Mogi das Cruzes, foram encontrados manuscritos de música muito antigos, o que nos permite supor haver música nas cerimônias religiosas. Mogi das Cruzes produziu, já no século XVIII, o mais antigo compositor brasileiro cujas obras chegaram aos nossos dias, Faustino do Prado Xavier (1708-1800), cuja música sabemos ter sido apresentada em Minas.
Com a descoberta do ouro, deslocou-se para o território um grande número de portugueses, cristãos novos, paulistas e escravos. Sendo a maioria homens solteiros, tornaram-se comuns as ligações com escravas africanas ou mulatas livres, o que fez aumentar a população mestiça, libertada, ao nascer, por seus senhores.
Entre estes pardos inteligentes e fortes, destacaram-se pintores, escultores e músicos de valor, cujo talento conferiu às suas obras um caráter original e autóctone: eles foram os primeiros a criar uma arte brasileira.
Os primeiros músicos a chegar às Minas procediam de outros territórios brasileiros, como o Rio de Janeiro e a região Nordeste. Pouco se sabe sobre a atividade musical na primeira metade do século XVIII, embora existam registros de professores de música em Vila Rica em 1716.
Há também notícias de que, em 1717, já havia uma corporação de músicos em São João d"El Rey, regida por Antônio do Carmo, e que recebeu o Conde de Assumar com um Te Deum na Igreja Matriz. O mesmo Antônio recebeu em 1728 "quarenta oitavas de ouro" para reger a música nas festividades de São João, com orquestra e dois coros.
Nas festas religiosas, era comum a encenação de "autos" ligados sempre à música, sendo populares os de Calderón de la Barca. Nos adros das igrejas, apresentavam-se danças de origem portuguesa ou afro-brasileira, como o "Lundu", consideradas "imorais" (impróprias) pelos clérigos.
Com algumas exceções, toda a documentação da música colonial brasileira data da segunda metade do século XVIII. Admite-se que antes deste período ouviam-se nas igrejas polifonias portuguesas. Mesmo algumas obras antes consideradas de autores mineiros são de origem portuguesa, como por exemplo um Popule Meus, atribuído a Francisco Gomes da Rocha, que descobriu-se ter como autor o português Gines de Morata, do século XVI.
Estas foram as fontes musicais que inspirariam os grandes músicos mulatos que surgiram na segunda metade do século XVIII, como José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Marcos Coelho Neto e Manoel Dias de Oliveira.
A HEGEMONIA DA IGREJA: de 1720 a 1749
Religião oficial do Estado, a Igreja Católica vivia em regime de padroado, herdado de Portugal. Os bispos e vigários recebiam a "côngrua", como qualquer funcionário público, dependendo financeiramente do Rei. Este, por sua vez, tinha o título de "Grão-Mestre da Ordem de Cristo": era o comandante da cruzada evangelizadora das terras descobertas por Portugal.
A atividade mineradora gerou uma sociedade urbana unida em torno de uma capela, marco inicial da povoação. A padroeira destas capelas era uma invocação a Nossa Senhora, sob variados títulos, sendo freqüente o de N. Srª da Conceição, devoção importante em Portugal.
Com o aumento da população, os povoados eram promovidos a vilas, pré-requisito para possuírem uma igreja matriz. Em 1711, atingiram esta condição as vilas de Ribeirão do Carmo (Mariana), Vila Real de N. Srª da Conceição de Sabará e Vila Rica de N. Srª do Pilar de Ouro Preto e, em 1714, o arraial do Serro Frio passou a se chamar Vila do Príncipe.
O território das Minas foi dividido em quatro imensas comarcas (municípios): Vila Rica, Rio das Mortes, Sabará e Serro Frio. Em 1720, a região das minas foi desmembrada da capitania de São Paulo, sendo criada a capitania das Minas Gerais, cujo governo, com sede em Vila Rica, era subordinado diretamente a Portugal.
As capelas e ermidas foram sendo gradualmente substituídas pelas igrejas matrizes, já ornamentadas com o ouro extraído da região.
A ordem dos Jesuítas empenhou-se em erradicar o analfabetismo com seus colégios, onde ensinavam desde as primeiras letras até a gramática e o latim. Desde o século XVII a música era ensinada por seus mestres de capela. A ordem dos Franciscanos criou uma "Escola de Artes e Ofícios" em Vila Rica, em 1737. Entre os "ofícios", figurava o da música. Este ensino criou primeiro uma geração de músicos e, a partir da segunda metade do século XVIII, os mestres compositores, vistos sempre como artesãos.
No entanto, era preocupante a situação moral na capitania. As leis civis não eram observadas, e a concubinagem era generalizada.
Em 1727, frei Antônio de Guadalupe, bispo do Rio de Janeiro, denunciou ao Santo Ofício os comediantes ciganos de Vila Rica e outras partes da capitania, ameaçando de excomunhão a quem os assistisse. Os bispos pediram ao Rei e ao Vaticano autorização para fundar uma diocese na região, concedida em 1748, com a elevação da vila de Ribeirão do Carmo a cidade, com o nome de Mariana, sede do bispado.
Em 1749, a posse do Bispo D. Manuel da Cruz foi comemorada com três dias de festas, com teatro e música, ficando a celebração conhecida como "Áureo Trono Episcopal".
D. Manuel levou para Mariana uma coleção de músicas que incluía um passionário (com música para a paixão narrada pelos quatro evangelistas) assinado por Francisci Ludovici, ou Francisco Luís, compositor português do séc. XVII, o Cum descendentibus in lacum, de Gines de Morata (séc XVI), e o Manuscrito de Piranga, provável coleção de obras portuguesas setecentistas para a Semana Santa.
A instituição do bispado em Mariana consolidou a hegemonia cultural da Igreja, explicando porque a arte em Minas Gerais teve caráter quase que totalmente religioso.
COMPOSITORES DE 1750 A 1810
1. JOSÉ JOAQUIM EMERICO LOBO DE MESQUITA (1746-1805)
O maior dos compositores mineiros nasceu na Vila do Príncipe (atual Serro Frio), em 12/10/1746, e morreu no Rio de Janeiro em ?/04/1805. Mulato, filho de Joseph Lobo de Mesquita e de sua escrava Joaquina Emerenciana, foi libertado por seu pai ao nascer.
Iniciou-se em música com o padre Manuel da Costa Dantas, mestre-de-capela da Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Serro, participando ainda criança das atividades musicais na Matriz.
Antes de 1776 mudou-se para o Arraial do Tejuco (atual Diamantina). Em fins de 1783 ou início de 1784, foi admitido como organista na Matriz de Santo Antônio, sendo responsável pela instalação de seu órgão e, em 17/1/1789, ingressou na Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo. É provável que nesta época tenha estabelecido um curso de música em sua casa.
Alistou-se no Terço de Infantaria dos Pardos, onde chegou à patente de Alferes.
Com o declínio da mineração, deixou o Arraial e a Ordem do Carmo em meados de 1798, residindo durante um ano e meio na capital da Província, Vila Rica (atual Ouro Preto). Trabalhou como regente para a Irmandade do Santíssimo Sacramento, sediada na matriz de Nossa Senhora do Pilar, no período 1798-1799, e também para a Ordem Terceira do Carmo.
Em meados de 1800 abandonou Vila Rica, mudando-se para a capital da colônia, o Rio de Janeiro. De dezembro de 1801 até sua morte, foi o organista da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, no Largo do Carmo (atual Praça XV) com um salário de 40 mil-réis anuais, ficando claro que alcançou sua posição graças à grande fama que precedeu sua chegada.
De Lobo de Mesquita restaram cerca de 50 obras, mas são poucas as que se acham completas. Jamais se encontrou uma partitura autógrafa. Existem apenas dois originais do compositor, a Antífona de Nossa Senhora de 1787 e a Dominica in Palmis de 1782. Existe uma cópia em partitura do seu Tractus para o Sábado Santo de 1783, a mais antiga partitura mineira.
Apesar de não haver qualquer registro, é provável que tenha ensinado seu ofício ao jovem mestre de capela da Sé do Rio de Janeiro, o padre José Mauricio Nunes Garcia, uma vez que na época este procurava aperfeiçoar-se no órgão. Reforça esta teoria o fato de que uma das composições catalogadas como sendo deste último (Matinas para Quarta Feira de Trevas, CPM 214), é de fato da autoria de Lobo de Mesquita.
SUAS OBRAS
Antífonas:
Beata Mater, (sem data)
Regina Coeli, laetare, 1779
Salve Regina, 1787 Antífonas, para Quarta e Quinta-feira Santas, (sem data)
Antífonas, para Quarta, Quinta e Sexta-feira Santas, (sem data)
Ária:
Ária ao Pregador - Ave Regina, (sem data)
Graduais, Tertius:
Difusa est Gratia Tércio, 1783
Domine, tu mihi lavas pedes, (sem data)
Christus factus est e Ofertório, p/ Quinta-feira Santa, (sem data)
Christus factus est, p/ Quinta-feira Santa, (sem data)
Haec dies, em ré, p/ Domingo da Ressurreição, (sem data)
Ladainhas:
Ladainha do Bom Jesus, (sem data)
Ladainha em dó, (sem data)Ladainha em fá, (sem data)
Ladainha em lá menor, (sem data)
Ladainha em si bemol, (sem data)
Magnificat:
Magnificat em ré, (sem data)
Magnificat em lá, (sem data)
Matinas, Vésperas:
Matinas da Ressurreição em lá, (sem data)
Matinas da Ressurreição em ré, (sem data)
Matinas da Ressurreição em sol, (sem data)
Matinas da Ressurreição em mi bemol, (sem data)
Vésperas de Sábado Santo, 1783
Missas, Credos:
Missa de Sábado Santo e Magnificat, (sem data)
Missa em fá, (sem data)
Missa em mi bemol, (sem data)
Credo em dó, (sem data)
Credo em fá, (sem data)
Ofertórios:
Ofertório de Nossa Senhora-Benedicta et Venerabilis, (sem data)
Ofertório Terra tremuit, em ré, (sem data)
Ofertório Terra tremuit, em ré, (sem data)
Ofícios e Missas de Defuntos Para a Semana Santa:
Ofício de Quinta-feira Santa, ad Matutinum, (sem data)
Ofício de Sábado Santo, ad Matutinum, (sem data)
Ofício de Sexta-feira Santa ad Matutinum, (sem data)
Ofício e Missa de Defuntos, (sem data)
Ofício e Missa para Domingo de Ramos, 1782
Ofício e Missa para Domingo de Ramos, (sem data)
Ofício e Missa para Quarta-feira de Cinzas, 1778
Outras Obras para a Semana:
Santa Heu Domine, para a procissão do Enterro do Senhor, (sem data)
Heus, para a Procissão do Enterro do Senhor, (sem data)
Paixão Bradrados e Adoração da Cruz, para Sexta-feira Santa, (sem data)
Procissão de Ramos-Cum appropinquaret, (sem data)
Tractus de Sábado Santo, (sem data)
Tractus para o Sábado Santo, (sem data)
Outros:
Momento a quatro, em sol menor, (sem data)
Responsório:
Responsório de Santo Antônio-Si quaeris miracula, (sem data)
Seqüência:
Seqüência Stabat Mater, (sem data)
Setenário:
Setenário:
Setenário de Nossa Senhora das Dores, (sem data)
Salmos:
Laudate Dominum, para o Sábado de Aleluia, (sem data)
Salmo nº 112-Laudate Pueri, (sem data)
Te Deum Te Deum, em lá menor, (sem data)
Te Deum em ré, (sem data)
2. MANOEL DIAS DE OLIVEIRA (1738-1813)
Nasceu em São José del Rey (atual Tiradentes) c. 1738 - m. id. 1813. Era provavelmente filho do organista Lourenço Dias com uma escrava, e com ele quem aprendido música. Era mulato e militar.
Quando jovem, atraído pela música na Matriz de Sto. Antônio, memorizava as vozes do repertório escondendo-se na igreja para ouvir aos ensaios. Conta-se que o padre Francisco da Piedade maravilhou-se ao ouvir o pequeno mulato cantando uma composição de Josquin des Prés, enquanto brincava com as formigas, convidando-o para juntar-se ao coro e dando-lhe a oportunidade de aprender teoria, contraponto e órgão.
Iniciou atividades musicais em 1869 na Irmandade de São Miguel e Almas, tendo se filiado também à Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, de Nossa Senhora da Piedade até 1789 e na Irmandade dos Brancos, do Senhor dos Passos, do Santíssimo Sacramento e do Bom Jesus.
Casou-se aproximadamente em 1768 com Ana Hilária, com quem teve 11 filhos. Em 1768, era alferes e logo capitão, em 1779.
Trabalhou como copista para complementar sua renda, ganhando rapidamente reputação neste campo. Suas obras ainda são apresentadas nas cidades de Tiradentes, Prados e São João del Rey, especialmente durante a Semana Santa.
SUAS OBRAS
Classificação imprecisa:
2. MANOEL DIAS DE OLIVEIRA (1738-1813)
Nasceu em São José del Rey (atual Tiradentes) c. 1738 - m. id. 1813. Era provavelmente filho do organista Lourenço Dias com uma escrava, e com ele quem aprendido música. Era mulato e militar.
Quando jovem, atraído pela música na Matriz de Sto. Antônio, memorizava as vozes do repertório escondendo-se na igreja para ouvir aos ensaios. Conta-se que o padre Francisco da Piedade maravilhou-se ao ouvir o pequeno mulato cantando uma composição de Josquin des Prés, enquanto brincava com as formigas, convidando-o para juntar-se ao coro e dando-lhe a oportunidade de aprender teoria, contraponto e órgão.
Iniciou atividades musicais em 1869 na Irmandade de São Miguel e Almas, tendo se filiado também à Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, de Nossa Senhora da Piedade até 1789 e na Irmandade dos Brancos, do Senhor dos Passos, do Santíssimo Sacramento e do Bom Jesus.
Casou-se aproximadamente em 1768 com Ana Hilária, com quem teve 11 filhos. Em 1768, era alferes e logo capitão, em 1779.
Trabalhou como copista para complementar sua renda, ganhando rapidamente reputação neste campo. Suas obras ainda são apresentadas nas cidades de Tiradentes, Prados e São João del Rey, especialmente durante a Semana Santa.
SUAS OBRAS
Classificação imprecisa:
Coreto (incompleto), (sem data)
Graduais:
Gradual Fuga do Egito, (sem data)
Gradual Justus ut Palma(sem data)
Gradual Justus ut Palma(sem data)
Gradual para Domingo de Páscoa (incompleto), (sem data)
Gradual a 4 vozes: Angelus Domine, (sem data)
Hinos:
Venite Adoremus, (sem data)
Visitação de Nossa Senhora das Dores, a 8 vozes, (sem data)
Ladainha:
Ladainha em fá, (sem data)
Magnificat:
Aleluia e Magnificat, (sem data)
Magnificat em ré, (sem data)
Missa:
Missa do 8º tom (incompleto), (sem data)
Obras para a Semana Santa:
Obras para a Semana Santa:
Aleluia para Sábado Santo, (sem data)
Bajulans, (sem data)
Domine Jesu, (sem data)
Encomendação das almas, 1809
Eu vos adoro, p/ Quarta-feira Santa, (sem data)
Invitatório, lições e missa de defuntos, (sem data)
Miserere em ré menor, (sem data)
Motetes de Passos a 8 vozes, (sem data)
Motetes de Passos a 8 vozes, (sem data)
Motetes de Passos a 8 vozes, (sem data)
Motetes Pupili, Cecidit Corona e Quomodo, p/ Sexta-feira Santa, 1779
Músicas para a Benção e Procissão de Ramos (incompleto), (sem data)
Offertorium, Justus ut Palma, (sem data)
Paixão e Bradados, para Domingo de Ramos, (sem data)
Pange Lingua, (sem data)
Popule Meus, (sem data)
Responsórios fúnebres, (sem data)
Responsórios fúnebres para a Ordem Terceira do Carmo, (sem data)
Surrexit para Domingo da Ressurreição, (sem data)
Tractus e bradados de Sexta-feira Santa, (sem data)
Tractus, Paixão e bradados de Quarta-feira Santa, 1788
Tractus para Missa dos Pré-santificados, (sem data)
Três ofícios de defuntos em sol menor e sol menor, (sem data)
Visitação dos Passos, a 8 vozes, 1767
Setenário:
Setenário de Nossa Senhora das Dores, (sem data)
Tantum Ergo:
Tantum Ergo, (sem data)
Te DeumTe Deum (Atribuído), (sem data)
Te Deum Laudamus, (sem data)
3. MARCOS COELHO NETO (1740-1806)
Nascido em Vila Rica em 1740, morreu na mesma vila em 21/08/1806. Membro da Irmandade de S. José dos Homens Pardos e da de N. Sra. das Mercês de Cima, foi trompetista dos conjuntos musicais que serviam às duas confrarias. Foi também timbaleiro na Cavalaria Auxiliar de Vila Rica.
Em 1785, foi designado regente da música para as "Festas do Desposório do Infante". De 1779 a 1789, foi regente do conjunto da Irmandade do Santíssimo Sacramento. Em 1799, ingressou na Venerável Ordem Terceira dos Mínimos de S. Francisco de Paula, de mulatos, e na Irmandade de Santo Antônio, constituída por brancos, sendo uma exceção honrosa ao preconceito racial da época.
Seu filho de mesmo nome (1763-1823) seguiu seu caminho como trompetista, mas ao que parece apenas o pai era compositor.
São poucas as obras suas que chegaram até aos nossos dias:
SUAS OBRAS
Antífonas:
3. MARCOS COELHO NETO (1740-1806)
Nascido em Vila Rica em 1740, morreu na mesma vila em 21/08/1806. Membro da Irmandade de S. José dos Homens Pardos e da de N. Sra. das Mercês de Cima, foi trompetista dos conjuntos musicais que serviam às duas confrarias. Foi também timbaleiro na Cavalaria Auxiliar de Vila Rica.
Em 1785, foi designado regente da música para as "Festas do Desposório do Infante". De 1779 a 1789, foi regente do conjunto da Irmandade do Santíssimo Sacramento. Em 1799, ingressou na Venerável Ordem Terceira dos Mínimos de S. Francisco de Paula, de mulatos, e na Irmandade de Santo Antônio, constituída por brancos, sendo uma exceção honrosa ao preconceito racial da época.
Seu filho de mesmo nome (1763-1823) seguiu seu caminho como trompetista, mas ao que parece apenas o pai era compositor.
São poucas as obras suas que chegaram até aos nossos dias:
SUAS OBRAS
Antífonas:
Domine Hyssopo, (sem data)
Salve Regina, (sem data)
Hino:
Maria, Mater Gratiae, 1787
Ladainhas:
Ladainha em Dó, (sem data)
Ladainha em Ré, (sem data)
Ladainha em Fá, (sem data)
Responsórios:
Responsórios de Santo Antônio, 1799
Responsórios de Santo Antônio, (sem data)
Responsórios Fúnebres, (sem data)
4. FRANCISCO GOMES DA ROCHA (1746-1808)
Nascido em Vila Rica em 1746, morreu em 9/2/1808 na mesma vila.
Começou sua carreira em 1766, ingressando na Irmandade da Boa Morte, na Matriz de Antônio Dias, e na Irmandade de S. José dos Homens Pardos, em 1768. Apresentou-se como regente e contralto em inúmeras festividades. Foi também fagotista e timbaleiro do Regimento dos Dragões de Vila Rica, sendo portanto companheiro de Tiradentes.
Amigo de Lôbo de Mesquita, foi por ele designado para cobrar os pagamentos atrasados que a Ordem Terceira do Carmo tinha com ele, quando partiu para o Rio de Janeiro.
Supõe-se que sua obra tenha sido numerosa, mas hoje são conhecidas somente a Novena de N. Sra. do Pilar de 1799, e as Matinas do Espírito Santo de 1795, além de algumas peças incompletas a ele atribuídas.
Auxiliou o pintor Manuel da Costa Ataíde em seu célebre teto da igreja de S. Francisco, pondo a sua orquestra como modelo para os anjos instrumentistas do pintor.
5. IGNÁCIO PARREIRAS NEVES (1730-1794)
Nasceu em 1730 em Vila Rica, morrendo em 1794 na mesma vila.
Ingressou em 1752 na Irmandade de S. José dos Homens Pardos, na qual atuou como tenor até o fim da vida, e como regente a partir de 1792. Foi regente, de 1776 a 1782 na Igreja de N. Sra. das Mercês de Baixo.
SUAS OBRAS
Antífona:
4. FRANCISCO GOMES DA ROCHA (1746-1808)
Nascido em Vila Rica em 1746, morreu em 9/2/1808 na mesma vila.
Começou sua carreira em 1766, ingressando na Irmandade da Boa Morte, na Matriz de Antônio Dias, e na Irmandade de S. José dos Homens Pardos, em 1768. Apresentou-se como regente e contralto em inúmeras festividades. Foi também fagotista e timbaleiro do Regimento dos Dragões de Vila Rica, sendo portanto companheiro de Tiradentes.
Amigo de Lôbo de Mesquita, foi por ele designado para cobrar os pagamentos atrasados que a Ordem Terceira do Carmo tinha com ele, quando partiu para o Rio de Janeiro.
Supõe-se que sua obra tenha sido numerosa, mas hoje são conhecidas somente a Novena de N. Sra. do Pilar de 1799, e as Matinas do Espírito Santo de 1795, além de algumas peças incompletas a ele atribuídas.
Auxiliou o pintor Manuel da Costa Ataíde em seu célebre teto da igreja de S. Francisco, pondo a sua orquestra como modelo para os anjos instrumentistas do pintor.
5. IGNÁCIO PARREIRAS NEVES (1730-1794)
Nasceu em 1730 em Vila Rica, morrendo em 1794 na mesma vila.
Ingressou em 1752 na Irmandade de S. José dos Homens Pardos, na qual atuou como tenor até o fim da vida, e como regente a partir de 1792. Foi regente, de 1776 a 1782 na Igreja de N. Sra. das Mercês de Baixo.
SUAS OBRAS
Antífona:
Salve Regina, (sem data)
Credo:
Credo, (sem data)
Ofício:
Ofício para os Funerais do Rei D. Pedro III, 1786
Oratório:
Oratório ao Menino Deus Para a Noite de Natal, no vernáculo, (sem data)
6. JERÔNIMO DE SOUZA LÔBO (? - 1810)
Nascido (?) em Vila Rica, morreu em 1810 na mesma vila.
Provável filho e testamenteiro do "Patriarca Musical de Vila Rica", Antônio de Souza Lôbo, foi pai do compositor Antônio de Souza Queiroz (m. 1829).
Foi membro da Irmandade de S. José dos Homens Pardos e, a partir de 1780, organista da Matriz de N. Sra. do Pilar.
SUAS OBRAS
Antífona:
6. JERÔNIMO DE SOUZA LÔBO (? - 1810)
Nascido (?) em Vila Rica, morreu em 1810 na mesma vila.
Provável filho e testamenteiro do "Patriarca Musical de Vila Rica", Antônio de Souza Lôbo, foi pai do compositor Antônio de Souza Queiroz (m. 1829).
Foi membro da Irmandade de S. José dos Homens Pardos e, a partir de 1780, organista da Matriz de N. Sra. do Pilar.
SUAS OBRAS
Antífona:
Antífona para Corpus Christi, (sem data)
Antífona Salve Sancte Pater para a Novena de S. Francisco de Assis, (sem data)
Hino:
O Patriarcha Pauperum, para a Novena de S. Francisco de Assis, (sem data)
Credos:
3 Credos em Ré, (sem data)
Ladainha:
3 Ladainhas em Dó, (sem data)
2 Ladainhas em Si bemol, (sem data)
Matinas:
Matinas de Sto. Antônio, (sem data)
Novena:
Novena de N. Sra. do Carmo, (sem data)
Ofícios para a Semana Santa:
Ofício para 5ª Feira Santa, (sem data)
Ofício para 6ª Feira Santa, (sem data)
Ofício para Sábado Santo, (sem data)
Responsórios:
Responsórios de S. Francisco de Paula, (sem data)
Setenário:
Setenário de N. Sra. das Dores, (sem data)
7. JOAQUIM DE PAULA SOUZA (1760-1820)
Nascido no arraial de Prados, ca. 1760, morreu na mesma localidade por volta de 1820. Exerceu sua profissão no final do século XVIII e início do século XIX. Pouco se sabe sobre sua vida, mas possuía o apelido de "Bonsucesso", e em algumas obras suas aparece o título de padre, não confirmado.
Notável calígrafo, impressionava pela beleza e pelo capricho de suas cópias.
Foi vereador em São José del Rey (Tiradentes), quando Prados era um distrito da vila. Possuia fortuna, pois há registro de que financiou a atividade musical em Prados, quando esta entrou em declínio com o esgotamento de suas minas.
Suas obras estão preservadas na Orquestra Ribeiro Bastos, de S. João del Rey.
SUAS OBRAS
Antífonas:
7. JOAQUIM DE PAULA SOUZA (1760-1820)
Nascido no arraial de Prados, ca. 1760, morreu na mesma localidade por volta de 1820. Exerceu sua profissão no final do século XVIII e início do século XIX. Pouco se sabe sobre sua vida, mas possuía o apelido de "Bonsucesso", e em algumas obras suas aparece o título de padre, não confirmado.
Notável calígrafo, impressionava pela beleza e pelo capricho de suas cópias.
Foi vereador em São José del Rey (Tiradentes), quando Prados era um distrito da vila. Possuia fortuna, pois há registro de que financiou a atividade musical em Prados, quando esta entrou em declínio com o esgotamento de suas minas.
Suas obras estão preservadas na Orquestra Ribeiro Bastos, de S. João del Rey.
SUAS OBRAS
Antífonas:
Laudemus Virum Gloriosum, Antífona de São Joaquim, (sem data)
Ladainha:
Ladainha de N. Sra. em Fá, (sem data)
Missas e Credos:
Missa e Credo em Dó, 1799?.
Missa e Credo em Sol, (sem data)
Missa Pequena, (sem data)
Obras para a Semana Santa:
Encomendação das Almas, (sem data)
A MÚSICA PROFANA: 1750 A 1810
Se da música religiosa mineira só conhecemos uma pequena parcela, mais obscura ainda é a música profana, da qual muito pouco chegou até os nossos dias. Um indício da freqüência de apresentações profanas nos é fornecido pelo aparecimento dos teatros e casas de ópera nas vilas.
Em Vila Rica existia desde a primeira metade do século XVIII um teatro, chamado "A Ópera", substituído em 1770 pela "Casa de Ópera" projetada pelo arquiteto Mateus Garcia. Um grande entusiasta e associado, o inconfidente Cláudio Manoel da Costa (1727-1789) teve vários de seus poemas dramatizados e apresentados com música neste teatro.
Em São João D”El Rey há notícias de um teatro a partir de 1775, tendo entre os associados o inconfidente Ignacio José de Alvarenga Peixoto (1744-1793).
O primeiro teatro de Sabará foi construído por volta de 1780, em estilo elizabetano. Em 1819, foi substituído pela Casa de Ópera, bem preservada até hoje (foto).
No arraial do Tejuco (Diamantina) existiu o "Teatrinho de Bolso", mandado construir pelo contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira para sua esposa, Chica da Silva. Nele sabe-se que foram apresentadas algumas obras teatrais do carioca Antonio José da Silva, o Judeu (1710-1739), musicadas pelo português Antônio Teixeira.
Finalmente em Paracatu houve uma Casa de Ópera por volta de 1780, onde atuava um conjunto organizado pelo padre Domingos Simão da Cunha.
Aparentemente havia uma separação entre os músicos dos teatros e os das irmandades. Numa ocasião, o regente da Casa de Ópera de Vila Rica, José Theodomiro Gonçalves, requisitou ao Senado da Câmara permissão para que seus músicos fizessem parte também das irmandades, "para se adestrarem".
Com relação às obras, eram populares as óperas de compositores portugueses como No Mundo da Lua, de Avendano, e títulos como Jogos Olympicos e A Ciganinha. Nas representações, uma novidade: os papéis femininos eram representados por mulheres, e não por falsetistas travestidos, como no restante do Ocidente.
Uma idéia da música apresentada em Vila Rica ao final do século XVIII nos fornece o inventário musical do músico e compositor Florêncio José Ferreira Coutinho (1750-1819). O inventário possuía três divisões: "Árias Italianas", “Música Portuguesa" e "Grades por Florêncio José Ferreira".
Na de "Música Portuguesa", figuravam obras de compositores portugueses e mineiros (pois os nascidos no Brasil eram considerados portugueses), entre os quais Ignácio Parreiras Neves, José Joaquim Emerico (Lôbo de Mesquita), e ele próprio.
As "Grades por Florêncio José Ferreira" eram compostas por 73 obras religiosas, 35 marchas militares e 149 "Pedaços de Música", sendo estes os mais interessantes para o assunto que tratamos.
Entre os "Pedaços", algumas obras-primas da bajulação política, como Os Dois Meneses (governadores de Minas), Nobre Assembléia e Das três Nações. O restante era constituído por "modinhas", que na época faziam mais sucesso na Europa que a bossa-nova atual.
Entre os títulos: Querida Aspásia; O Menino Quer Nanar; Oráculo do Amor; Se Queres Vida Folgada; Não Me Deixes, Ingrata; Ah! Que Lindas Cadelinhas; O Veneno Hei Bebido, e Ao Rogo e Pranto Teu (sem violinos), sugerindo que era comum que fossem acompanhadas por este instrumento.
Por fim, não deve ser esquecida a contribuição dos africanos para a formação musical brasileira, que apesar de pouco desenvolvida em termos de melodia, é riquíssima no aspecto rítmico. No período colonial brasileiro, tornou-se popular a dança Lundu, derivada de rituais eróticos africanos, muito comum em Minas.
Os artigos anteriores e este constituem uma visão geral da música barroca de Minas Gerais. A seguir, as vidas e obras dos grandes mestres da música mineira serão detalhadas.
A MÚSICA PROFANA: 1750 A 1810
Se da música religiosa mineira só conhecemos uma pequena parcela, mais obscura ainda é a música profana, da qual muito pouco chegou até os nossos dias. Um indício da freqüência de apresentações profanas nos é fornecido pelo aparecimento dos teatros e casas de ópera nas vilas.
Em Vila Rica existia desde a primeira metade do século XVIII um teatro, chamado "A Ópera", substituído em 1770 pela "Casa de Ópera" projetada pelo arquiteto Mateus Garcia. Um grande entusiasta e associado, o inconfidente Cláudio Manoel da Costa (1727-1789) teve vários de seus poemas dramatizados e apresentados com música neste teatro.
Em São João D”El Rey há notícias de um teatro a partir de 1775, tendo entre os associados o inconfidente Ignacio José de Alvarenga Peixoto (1744-1793).
O primeiro teatro de Sabará foi construído por volta de 1780, em estilo elizabetano. Em 1819, foi substituído pela Casa de Ópera, bem preservada até hoje (foto).
No arraial do Tejuco (Diamantina) existiu o "Teatrinho de Bolso", mandado construir pelo contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira para sua esposa, Chica da Silva. Nele sabe-se que foram apresentadas algumas obras teatrais do carioca Antonio José da Silva, o Judeu (1710-1739), musicadas pelo português Antônio Teixeira.
Finalmente em Paracatu houve uma Casa de Ópera por volta de 1780, onde atuava um conjunto organizado pelo padre Domingos Simão da Cunha.
Aparentemente havia uma separação entre os músicos dos teatros e os das irmandades. Numa ocasião, o regente da Casa de Ópera de Vila Rica, José Theodomiro Gonçalves, requisitou ao Senado da Câmara permissão para que seus músicos fizessem parte também das irmandades, "para se adestrarem".
Com relação às obras, eram populares as óperas de compositores portugueses como No Mundo da Lua, de Avendano, e títulos como Jogos Olympicos e A Ciganinha. Nas representações, uma novidade: os papéis femininos eram representados por mulheres, e não por falsetistas travestidos, como no restante do Ocidente.
Uma idéia da música apresentada em Vila Rica ao final do século XVIII nos fornece o inventário musical do músico e compositor Florêncio José Ferreira Coutinho (1750-1819). O inventário possuía três divisões: "Árias Italianas", “Música Portuguesa" e "Grades por Florêncio José Ferreira".
Na de "Música Portuguesa", figuravam obras de compositores portugueses e mineiros (pois os nascidos no Brasil eram considerados portugueses), entre os quais Ignácio Parreiras Neves, José Joaquim Emerico (Lôbo de Mesquita), e ele próprio.
As "Grades por Florêncio José Ferreira" eram compostas por 73 obras religiosas, 35 marchas militares e 149 "Pedaços de Música", sendo estes os mais interessantes para o assunto que tratamos.
Entre os "Pedaços", algumas obras-primas da bajulação política, como Os Dois Meneses (governadores de Minas), Nobre Assembléia e Das três Nações. O restante era constituído por "modinhas", que na época faziam mais sucesso na Europa que a bossa-nova atual.
Entre os títulos: Querida Aspásia; O Menino Quer Nanar; Oráculo do Amor; Se Queres Vida Folgada; Não Me Deixes, Ingrata; Ah! Que Lindas Cadelinhas; O Veneno Hei Bebido, e Ao Rogo e Pranto Teu (sem violinos), sugerindo que era comum que fossem acompanhadas por este instrumento.
Por fim, não deve ser esquecida a contribuição dos africanos para a formação musical brasileira, que apesar de pouco desenvolvida em termos de melodia, é riquíssima no aspecto rítmico. No período colonial brasileiro, tornou-se popular a dança Lundu, derivada de rituais eróticos africanos, muito comum em Minas.
Os artigos anteriores e este constituem uma visão geral da música barroca de Minas Gerais. A seguir, as vidas e obras dos grandes mestres da música mineira serão detalhadas.
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