quarta-feira, agosto 08, 2007

ABERTURAS, INTERMEZZI E DANÇAS TEATRAIS DO BARROCO FRANCÊS E ITALIANO

ABERTURAS, INTERMEZZI E DANÇAS TEATRAIS DO BARROCO FRANCÊS E ITALIANO
por Rui Cabral


O dealbar do século XVII trouxe consigo o nascimento da Ópera, indelevelmente marcado pela fértil tradição italiana dos interlúdios músico-dramáticos de temática pastoral, alegórica ou mitológica, que desempenhavam uma função de entretenimento no decurso das peças teatrais. Usufruindo de uma grande popularidade desde a Renascença, os intermezzi incorporavam, a par com o discurso falado, o canto e a música instrumental, o que esteve na origem da constituição de uma vasta produção musical, associada à esfera teatral e constituída por madrigais, motetes, ballets, aberturas e danças instrumentais, a qual é, em parte, objeto do presente programa. Os exemplos mais antigos são da autoria de Giulio Abundante (fl. 1546-1587) e Jacomo de Gorzanis (c.1520-ca.1579), dois destacados representantes da literatura para o alaúde em Itália nos meados do século XVI.
Muito embora a música desempenhasse um papel autônomo e desligado da ação dramática, no seio dos intermezzi, foi a sua convivência estreita com a palavra e com a representação de emoções o fundamento embrionário da Ópera. Contando-se entre os mais célebres intermezzi, encontram-se os seis que foram apresentados em Florença no ano de 1589, por ocasião do casamento do Duque Ferdinando de Medici com D. Cristina de Lorena. Para a realização do espetáculo, emoldurado por cenários suntuosos e dispendiosa maquinaria de palco, contribuíram algumas das personalidades mais destacadas do panorama literário e artístico da época, como o mecenas Giovanni Bardi (1534-1612), responsável pela elaboração dos textos, em conjunto com Ottavio Rinuccini e Laura Guidiccioni, e os compositores Christofano Malvezzi (†1599), e Luca Marenzio (c. 1553-1599). Estes últimos, distintos representantes do Madrigal maneirista, escreveram a maior parte da música que contou ainda com colaborações pontuais de Jacopo Peri (1561-1633), Antonio Archilei (c.1550-1612), Giovanni Bardi, Giulio Caccini (c.1548-1618) e do supervisor musical do evento, Emilio Cavalieri (c.1550-1602). Do vasto leque de gêneros abordados ao longo dos seis intermezzi, que vão desde a canção solística de contornos ornamentados, acompanhada pelo chitarrone, aos imponentes madrigais policorais, em que participam sessenta cantores e pelo menos vinte e quatro instrumentos, fazem parte as sinfonias instrumentais, das quais serão ouvidos exemplos da autoria de Malvezzi e Marenzio. Estas obras destinavam-se a introduzir um intermedio ou a acompanhar a mudança de cenário, sendo executadas por conjuntos extremamente diversificados, constituídos, entre outros instrumentos, por flautas, cornetas, sacabuxas, violinos, violas da gamba, mandoras, alaúdes, guitarras e saltérios, segundo a prática renascentista. O uso desta instrumentária viria ainda a reflectir-se nas primeiras óperas, muito particularmente no O r f e o de Claudio Monteverdi (1567-1643), estreado em Mântua, a 24 de Fevereiro de 1607, de onde provém a Sinfonia M o r e s c a . Ao longo das mais de três décadas que decorreram entre a composição das primeiras óperas de Monteverdi e do que constitui o corolário da sua produção dramática, surgido a partir de 1640, a corrente impulsionadora do “dramma per musica” deslocou-se de Florença para Roma, com o protagonismo crescente de compositores como Domenico Mazzocchi (1592-1665), Stefano Landi (c.1586-1639) e Luigi Rossi (1598-1653), ao mesmo tempo que as inovações estilísticas italianas se estendiam a toda a Europa. Rossi contribuiu significativamente para a projeção do idioma italiano fora de Itália, e a sua ópera Orfeo (1647), foi apresentada com grande sucesso na corte francesa a convite do primeiro ministro Jules Mazarin. Apesar de contestada pelos racionalistas da tradição clássica francesa, a música italiana teve reflexos duradouros na produção de óperas e de numerosos gêneros de dança, como os ballets de court, cultivados extensivamente por compositores como Pierre Guédron (†1621), Jean de Cambefort (1605-1661) e Guillaume Dumanoir (1615-1697). A sua influência perdurou mesmo para além da afirmação absolutista de uma estética marcadamente francesa, sob o vulto de Jean-Baptiste Lully (1632-1687). Tal convivência de culturas musicais veio a ocupar um lugar preferencial na discussão teórica contemporânea, em especial na promovida por Marin Mersenne (Harmonie Universelle, 1636).
Correspondendo à tendência que se fazia sentir em Itália e França, a música de dança conheceu uma crescente afirmação no espaço germânico, na primeira metade do século XVII. O violinista inglês William Brade (1560-1630), passou a maior parte da sua vida criativa na Alemanha e foi um dos principais cultores da suíte barroca naquele país. Exímio executante, Brade destacou-se, sobretudo, pelo engenho com que elaborava variações sobre baixos de dança, um exercício de improvisação de que se tornou pioneiro. A par com as mais convencionais Pavana, Galharda ou Alemande, Brade divulgou danças menos conhecidas que vieram alargar a estrutura formal da suíte, como a Maschera, inspirada pelas festividades carnavalescas, e a Intrada, de caráter processional.
A expansão da música instrumental de câmara durante o barroco médio germânico deve-se, sobretudo, à ação de três compositores: Johann Rosenmüller (c.1619-1684) Johann Schmelzer (c.1620-1680) e Heinrich Ignaz von Biber (1644-1704). Rosenmüller nasceu na Saxónia mas desenvolveu o essencial da sua atividade em Itália, onde ocupou o cargo de trombonista na Basílica de São Marcos, em Veneza. As suítes e as sonatas do compositor veiculam um discurso elaborado, caracterizado pela inventiva da concepção harmônica. No final da sua vida, Rosenmüller regressou ao seu país natal, tornando-tornando-se Mestre de Capela em Wolfenbüttel, e as suas composições instrumentais vieram a estabelecer um canal privilegiado para a transmissão do estilo italiano às regiões do Norte da Alemanha.

1 comentário:

Rosana Martinez disse...

Olá meu nome é Rosana Martinez...outro dia no meu carro ouví uma´música lindíssima....nem é do meu gosto o estilo..mas simplesmente amei...era uma ópera Barroca Francesa...e infelizmente não guardei o nome...fiquei triste em perder a referência, nem a rádio sei qual era...pena pois me apaixonei pela música, quase cheguei a chorar de tão fundo que me tocou....Estou entrando em vários sites sobre o assunto, mas não me lembro o nome da música...será que algum dia terei a grande sorte de ouví-la novamente? um grande abraço !